Talvez se eu fosse procurar desvantagens nessa vida que levo, não tenho certeza, mas acho que encontraria. Talvez encontrasse motivos para viver resmungando, chorando pelos cantos, queixando-se da sorte e revoltado com o criador por não fazer cair do céu tudo que necessito.
De fato, minha vida não parece ser lá essas maravilhas. Ando numa cadeira de rodas, transporte esse que não aparenta ser dos melhores e enfrento diariamente todas as dificuldades conseqüentes por ser um cadeirante. Portanto, não resta dúvidas: tenho mesmo motivos para ser melancólico e infeliz.
Mas é exatamente aí que muita gente se engana. A cadeira de rodas é um transporte maravilhoso. A começar porque, ao contrário da moto, ela tem quatro rodas, por isso é muito mais segura contra acidentes. Ela é muito mais segura também contra furtos, pois ninguém consegue pegá-la sem que eu perceba. Além do que, nos ambientes onde faltam assentos para todos os presentes, nunca fico em pé, pois já trago a minha cadeira sempre comigo. Ser um cadeirante é muito bom também porque não enfrento filas, chego em um estabelecimento e logo sou atendido. (quer dizer, quase sempre não é!) Outra grande vantagem é que não acabo meus sapatos, pois quase nunca piso no chão, além de, jamais sofrer uma pisada. Uma outra coisa ótima é que não pago ingresso em festas ou outros eventos do gênero. Também quase nunca canso as pernas, pois fico a maior parte do tempo sentado. Além disso, todo mundo tem pena de mim, ninguém me dá um tapa na cara, mesmo que eu mereça.
Pensa que acabou? Que nada! São tantas as vantagens que se eu me dispusesse a citá-las todas não sobraria sequer espaço para o título da crônica. Apenas narrarei um pequeno episódio ocorrido comigo durante os festejos de São Raimundo Nonato para exemplificar o quão compensatória é a vida de um cadeirante.
A Avenida estava repleta de gente, mal as pessoas conseguiam se movimentar e logo esbarravam umas nas outras. Era, se não me engano, o dia da festa maior, 30 de agosto. Eu andava muito lentamente em minha cadeira de rodas, quase que sufocado no meio da multidão. De repente, com aquele empurra-empurra, uma moça muito bonita caiu no meu colo e pra minha surpresa, não teve nenhuma pressa por levantar. Olhou no fundo dos meus olhos e quis me agradecer de um modo muito especial por não tê-la deixado cair. Evidentemente que aceitei a gratificação dela, afinal ninguém é de ferro. Aliás, foi a melhor recompensa que já recebi. Pena que nunca mais tenha a visto. De qualquer forma, rezo todas as noites para que mais moças caiam no meu colo.
Sendo assim, é muito mais fácil e óbvio que eu tente tirar proveito e explorar ao máximo essas vantagens. Mesmo porque não me resta outra coisa a fazer. Chutando o balde eu não iria conseguir nada.
Realmente, tenho lá meus problemas, mas era de se desconfiar se eu não tivesse. Afinal, “goiaba na beira da estrada ou é verde ou é bichada”.
Salvador de Castro
http://www.seid.pi.gov.br/
De fato, minha vida não parece ser lá essas maravilhas. Ando numa cadeira de rodas, transporte esse que não aparenta ser dos melhores e enfrento diariamente todas as dificuldades conseqüentes por ser um cadeirante. Portanto, não resta dúvidas: tenho mesmo motivos para ser melancólico e infeliz.
Mas é exatamente aí que muita gente se engana. A cadeira de rodas é um transporte maravilhoso. A começar porque, ao contrário da moto, ela tem quatro rodas, por isso é muito mais segura contra acidentes. Ela é muito mais segura também contra furtos, pois ninguém consegue pegá-la sem que eu perceba. Além do que, nos ambientes onde faltam assentos para todos os presentes, nunca fico em pé, pois já trago a minha cadeira sempre comigo. Ser um cadeirante é muito bom também porque não enfrento filas, chego em um estabelecimento e logo sou atendido. (quer dizer, quase sempre não é!) Outra grande vantagem é que não acabo meus sapatos, pois quase nunca piso no chão, além de, jamais sofrer uma pisada. Uma outra coisa ótima é que não pago ingresso em festas ou outros eventos do gênero. Também quase nunca canso as pernas, pois fico a maior parte do tempo sentado. Além disso, todo mundo tem pena de mim, ninguém me dá um tapa na cara, mesmo que eu mereça.
Pensa que acabou? Que nada! São tantas as vantagens que se eu me dispusesse a citá-las todas não sobraria sequer espaço para o título da crônica. Apenas narrarei um pequeno episódio ocorrido comigo durante os festejos de São Raimundo Nonato para exemplificar o quão compensatória é a vida de um cadeirante.
A Avenida estava repleta de gente, mal as pessoas conseguiam se movimentar e logo esbarravam umas nas outras. Era, se não me engano, o dia da festa maior, 30 de agosto. Eu andava muito lentamente em minha cadeira de rodas, quase que sufocado no meio da multidão. De repente, com aquele empurra-empurra, uma moça muito bonita caiu no meu colo e pra minha surpresa, não teve nenhuma pressa por levantar. Olhou no fundo dos meus olhos e quis me agradecer de um modo muito especial por não tê-la deixado cair. Evidentemente que aceitei a gratificação dela, afinal ninguém é de ferro. Aliás, foi a melhor recompensa que já recebi. Pena que nunca mais tenha a visto. De qualquer forma, rezo todas as noites para que mais moças caiam no meu colo.
Sendo assim, é muito mais fácil e óbvio que eu tente tirar proveito e explorar ao máximo essas vantagens. Mesmo porque não me resta outra coisa a fazer. Chutando o balde eu não iria conseguir nada.
Realmente, tenho lá meus problemas, mas era de se desconfiar se eu não tivesse. Afinal, “goiaba na beira da estrada ou é verde ou é bichada”.
Salvador de Castro
http://www.seid.pi.gov.br/
Legal!
ResponderExcluirGostei muito do que vc postou!
Parabéns, que Deus te abençoe e te guarde.
Abraço,
Fatima