quinta-feira, 16 de abril de 2009

Utente do Rovisco Pais vai dar lição de vida “aos normais”

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O desafio foi lançado por um jovem de 24 anos, Virgílio Óscar Lachado Ferreira, natural da Lixa, Felgueiras, que há um ano sofreu um acidente de automóvel que o deixou paraplégico. Desde então passa a vida no Centro de Medicina e Reabilitação do Centro – Hospital Rovisco Pais, na Tocha, onde tenta recuperar das lesões vertebro-medulares que lhe paralisaram todo o corpo. Apenas mexe as mãos e o pescoço.
A viver este drama «muito complicado e difícil de aceitar», Virgílio Lachado teve uma ideia que partilhou com a sua médica fisiatra, Armanda Lopes, que achou «maravilhosa».
«A ideia é instituir o “Dia do Tetraplégico” e, nesse dia, desafiar os limites e capacidades das pessoas “normais», revelou à nossa reportagem o utente do Rovisco Pais. E como se testam esses limites e capacidades? «Basta juntarem-se a nós [tetraplégicos], participar numa tarde, numas horas ou até uns minutos que sejam no mínimo diferentes». Até aqui, Virgílio Lachado ainda não tinha desvendado onde queria chegar. Mas explicou: «O desafio é convidar as pessoas a terem a coragem de se sentarem numa cadeira de rodas e tentar viver o nosso mundo por um período», explica. Mas com uma condição: não se podem mexer, «apenas o pescoço e ombros»; só podem sair da cadeira uma vez, em caso de necessidade de usar a casa de banho, e quem conseguir aguentar mais tempo na cadeira cumprindo as regras é o vencedor. O objectivo principal deste desafio, conta, é fazer sentir na pele o que é o dia-a-dia de um tetraplégico e tentar perceber todas as suas dificuldades, limitações «e a quantidade surpreendente de coisas que a gente não consegue fazer».Este utente do Rovisco Pais, apesar da sua infelicidade, sublinha que o não conseguir andar «é o menos importante da nossa situação». O que é difícil, diz ao DC, «é tudo o resto que é difícil de lidar», ou seja, depender de outros para fazer tudo, «até sacudir uma mosca da cara».
Com o “Dia do Tetraplégico”, quem aceitar o desafio, frisa Virgílio Lachado, vai perceber que «as “mariquices” que a gente pede – que para uma pessoa normal não tem nada de importante – para nós é quase um bem de primeira necessidade». E com esta sensibilização, o jovem paraplégico está convencido que “os outros”, para a próxima, «nos auxiliarão mesmo sem pedirmos, em vez de nos dar uma “fraca resposta” quando precisamos de ajuda para o que quer que seja».
Desafio marcado para terça-feira
Esta ideia de Virgílio Lachada, conforme foi dito, foi partilhada com a médica fisiatra do Rovisco Pais, Armanda Lopes, que desde logo mereceu não só o seu apoio mas igualmente do conselho de administração do Centro de Medicina e Reabilitação, que a adoptou.
E para a concretizar foi escolhido o dia 14 de Abril, terça--feira próxima, que será denominado como “Dia do Tetra”.A experiência vai ser levada a cabo por pessoal da unidade de lesões vertebro-medular e ontem já havia meia dúzia de inscrições de voluntários com coragem para se sentarem numa cadeira de rodas e viver o mundo dos tetraplégicos. «No final da experiência, muito mais importante que os prémios, vão guardar uma lição de vida incrível, para além de uma fantástica sensibilização da nossa patologia, e ver em que condições conseguimos sorrir e ser felizes», diz o utente do Rovisco Pais.Virgílio Lachado falou em prémio que, embora simbólicos, vão existir nesta experiência. Quem conseguir aguentar mais tempo na cadeira cumprindo as regras será o vencedor e, como prémio, terá uma taça, um jantar no restaurante “Panorama” e uma noite no Hotel do Minho; o segundo recebe uma taça e umas armações de óculos; e o terceiro uma taça.

http://sexualidademedular.wordpress.com/

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