O oftalmologista Leonardo Gontijo, professor da Faculdade de Medicina da Santa Casa de Belo Horizonte (MG), desenvolveu alguns sensores que poderão ajudar os cegos a se locomoverem sozinhos, sem a ajuda da bengala.
O aparelho, que está sendo patenteado no Inpi (Instituto Nacional de Propriedade Industrial) e ainda não tem um nome comercial definido, será apresentado no Congresso Brasileiro de Oftalmologia, no final do mês de agosto.
Segundo Gontijo, a ideia de criar os sensores surgiu depois que ele atendeu um paciente adulto que perdeu a visão por causa das complicações do diabetes. "Ele entrou no meu consultório escorado pelos filhos e não tinha nenhuma afinidade com a bengala. Era totalmente inseguro para andar", diz.
Por causa dessa experiência, Gontijo decidiu desenvolver os sensores com a ajuda de um eletrotécnico. Os aparelhos são presos em três pontos do corpo: nos joelhos, na cintura e na altura do peito.
Quando houver objetos a pelo menos 1,5 metros de distância do deficiente, os sensores vibram e a intensidade aumenta com a aproximação. A distância em relação aos objetos pode ser regulada.
"Antes de usar os sensores em pacientes, fiz o teste sozinho. Vesti os sensores, espalhei várias mesas e cadeiras num salão de festas, apaguei as luzes e tentei caminhar. Em nenhum momento eu trombei nos objetos."
Gontijo diz que o sensor poderá ser usado por todos os deficientes visuais, mas acredita que aqueles que ficaram cegos depois de velhos aceitarão melhor o equipamento.
"O cego de nascença desenvolve outras habilidades e se dá muito bem com a bengala. Já aquela pessoa que fica cega na maturidade tem mais dificuldades para se adaptar", avalia o oftalmologista.
Por enquanto, não há aparelhos disponíveis para venda, pois o equipamento está em fase de patente. Ainda não há estimativa de preço nem de prazo para o lançamento.
Preço alto
Deficiente visual desde que nasceu, Sandra Maria de Sá Brito Maciel, 63, vice-presidente da Adeva (Associação de Deficientes Visuais e Amigos), diz que novas tecnologias para auxiliar os cegos são importantes, mas acha muito difícil que os sensores consigam substituir as bengalas.
"O uso da bengala como meio de locomoção para o cego é consagrado em todo o mundo. Além disso, por R$ 50 você compra uma boa bengala e ela vai durar muito tempo. Um sensor desse tipo requer muita tecnologia e, provavelmente, poderá ser comprado apenas pelos cegos que têm condições financeiras", avalia.
Sandra discorda que os cegos adquiridos têm mais dificuldades para se adaptar ao uso da bengala. "O cego adquirido já sabe como são os ambientes e consegue se adaptar à bengala com pouco treino."
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