Palestra realizada na Escola de Educação Física e Esporte da USP aborda cultura de deficientes auditivos e atuação de profissionais na área de educação física adaptada
Edgar Lepri
A acessibilidade e a inclusão são temas muito recorrentes na mídia atualmente. Diversas instituições lutam para que leis que proporcionem melhor qualidade de vida à pessoa com deficiência sejam aprovadas e colocadas em prática. A Lei de Cotas e a inclusão no ensino regular são exemplos dessa luta. Outra maneira de inserir deficientes na sociedade e fazer com que os preconceitos diminuam é por meio do esporte e do lazer. E foi justamente esse o tema abordado em palestra da “14ª Semana de arte e cultura”, que foi realizada de 19 a 27 de setembro.
Como forma de mostrar que pessoas com deficiência não são incapazes e que podem ser independentes, a Escola de Educação Física e Esporte da USP, em palestra conduzida pelo bacharel em educação física, Carlos Henrique Tapetti, abordou, especificamente, a deficiência auditiva, a cultura surda e a atuação de profissionais nessa área. Com os avanços na acessibilidade nas últimas décadas, a inclusão está cada vez maior, seja no mercado de trabalho, seja em atividades físicas. “Antes, o deficiente deveria se adequar ao que a sociedade o oferecia. Hoje, vemos que essa visão é diferente”, diz Tapetti, que treina um time feminino de futsal de deficientes auditivas.
Os avanços tecnológicos certamente ajudaram na inclusão, mas, em alguns casos, também podem ser sinônimo de problema. O implante coclear, por exemplo, que consiste basicamente em um aparelho ligado a um nervo auditivo, é muito utilizado atualmente, mas impossibilita a prática de atividades físicas devido aos riscos de impacto na cabeça.
A prática esportiva de alto nível tem seu ápice de competitividade e visibilidade mundial nas Olimpíadas ou, no caso, nas Paraolimpíadas. Porém, a deficiência auditiva não se encaixa nos Jogos Paraolímpicos e os atletas devem competir contra pessoas que não têm deficiência. Tal determinação já causou desconforto e transtorno para a organização dos Jogos. Em 2000, na cidade de Sidney, o atleta Terence Parkin, do Zimbábue com deficiência auditiva classificou-se para a prova dos 400m medley de natação e deveria receber um sinal visual para a largada. No caso, os organizadores tiveram de mergulhar em cálculos para desenvolver um aparelho que eliminasse a diferença entre o apito sonoro que os outros competidores ouviriam para a largada e o sinal visual. Caso não tivessem conseguido, Parkin teria levado vantagem, visto que a velocidade da luz é maior que a do som.
Experiência profissional
No comando do time Águia da Mooca, Tapetti foi bicampeão do campeonato SESI/ADAVIDA, realizado anualmente em comemoração ao dia do surdo. Para ele, o convívio com as atletas proporciona trocas de experiências que vão além da atuação profissional. “É como se eu as transmitisse técnica e táticas de futsal e em troca recebesse lições da cultura de deficientes auditivos, como a conversação em Libras (Língua Brasileira de Sinais). A linguagem é interessante porque podemos considerar uma outra língua. Há, inclusive, apelidos e abreviaturas para agilizar a comunicação. O meu, por exemplo, é o sinal da letra ‘C’ feito na frente do queixo, porque meu nome começa com ‘C’ e tenho um furo no queixo, de nascença”, explica Tapetti.
Apesar de focar a disputa de campeonatos, o time valoriza, acima de tudo, a inclusão esportiva como forma de proporcionar atividade física e convivência. Não há muita rivalidade entre as jogadoras, pois elas mudam de times frequentemente e quando se encontram é para se divertir praticando esporte. Para o treinador, a comunicação por Libras é importante, mas não é obrigatória. “Já vi treinador que não sabia (Libras) e ainda assim conseguia ser compreendido pelas atletas. Principalmente durante o jogo, alguns sinais podem bastar”, afirma Tapetti.
Quanto à cultura, o treinador também encontra algumas particularidades. “A principal diferença que noto é em relação ao comprometimento. É praticamente impossível um deficiente auditivo cancelar algum compromisso que tenha assumido”, exemplifica Tapetti. Alguns desses encontros podem ser percebidos nas praças de alimentação de shoppings, como no Metrô Tatuapé, nas sextas à noite, e no Metrô Santa Cruz, aos sábados à noite.
Fonte: Rede Saci
DEFICIENTE ALERTA foi criado para orientar,educar,protestar e ajudar todos com deficiência. www.deficientealerta.blogspot.com
Bom dia. Faz muito tempo que fiz essa palestra, mas fazendo uma busca na internet que observei que vocês tinham postado ela. Vocês atuam na área ainda, vi que o último post é antigo.
ResponderExcluirVamos nos comunicar mais: pefcarlos@gmail.com
Abraços.
Carlos Henrique Tapetti