sexta-feira, 25 de setembro de 2009

"Tive que me virar"

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Jairo Marques fala do desafio na infância de ter de criar os próprios meios para sua independência

( Jairo Marques )
Lá em casa, a regra sempre foi conviver com a molecada, me sentir igual aos outros, aprender a me virar e a me preparar para o mundo mesmo sendo ele bem despreparado para mim, como é até hoje.
Apesar de a minha mãe ter as preocupações básicas de criar uma criança com deficiência, fui incentivado a criar meios de ser independente, de encarar os desafios da falta de acessibilidade e de me preparar para fazer com que o meu caráter se impusesse ao meu aspecto físico.
Nem após as cirurgias necessárias para minimizar os reflexos da paralisia infantil -fui vítima dela aos nove meses-, eu recebia proteção excessiva. Matar aulas porque estava usando gesso ortopédico, nem pensar. Era necessário me reabilitar, mas isso nunca foi justificativa para deixar meu preparo de vida para trás.
Poucas vezes escutava de algum parente: "Você não pode ir porque lá é cheio de escadas e você não vai se dar bem". Mas foram vários os incentivos do tipo: "Vai que, com jeitinho, você consegue. Se não der certo, você tentou".
Claro que encarar as limitações, sobretudo as severas, é um processo que gera desconforto, e nenhuma mãe quer que o filho seja vítima de preconceito ou passe por empecilhos.
Contudo, a proteção não pode ocultar a realidade a ser enfrentada. Aprender a se virar na infância pode garantir uma vida adulta com mais desenvoltura, sem que nos achem cheios de melindres.

Jairo Marques, coordenador-assistente da Agência Folha, é cadeirante e autor do blog http://assimcomovoce.folha.blog.com.br

Fonte: Folha de São Paulo

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