sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Copa do Mundo, para todo mundo.

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* Esta matéria foi escrita para a Revista Reação – Revista Nacional de Reabilitação, Ano XIII, número 70, edição bimestral de setembro/outubro. São Paulo: Editora C&G 12 Comunicação e Marketing, p. 40-42, setembro de 2009.

No dia 30 de Outubro de 2007 a FIFA ratificou o Brasil como país-sede da Copa do Mundo de 2014. Em maio de 2009, foi anunciada as 12 cidades sede que receberão os jogos da Copa: Belo Horizonte, Brasília, Cuiabá, Curitiba, Fortaleza, Manaus, Natal, Porto alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. Dentre as 12 cidades escolhidas, 4 a 6 delas deverão receber também a Copa das Confederações 2013, evento que seve como teste para a Copa. Os estádios de Natal, Recife e Salvador serão construidos especialmente para a Copa. Apesar de ainda não estarem definidas, as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro são as mais cotadas para receber os jogos de abertura e encerramento da Copa do Mundo, respectivamente. O Ministério do Turismo é o principal órgão do Governo Federal na organização do evento, e os critérios para a escolha das cidades fizeram parte de uma estratégia, visando o favorecimento do turismo nas regiões que receberão o evento.
A FIFA convocou em agosto, todos os arquitetos e coordenadores da organização da Copa de 2014 para uma reunião de ajuste dos projetos de estádios. Um documento enviado pela direção da FIFA na Suíça tinha diversas diretrizes referentes à parte arquitetônica dos estádios, inclusive orientações precisas sobre acessibilidade, com o objetivo de fazer uma Copa 100% acessível. E estabelece que o edital de licitação preveja a adequação das instalações físicas dos estádios para a norma NBR 9050 (Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos). Apesar da acessibilidade nos estádios já estar prevista em nossa legislação há algum tempo, como no decreto 5.296 e até em documentos mais específicos, como o Estatuto do Torcedor, somente agora o Brasil resolve tomar uma atitude mais abrangente. A acessibilidade é um item obrigatório para os países sedes, onde isso é deixado claro já na fase da candidatura, então o comitê de organização da Copa de 2014 no Brasil sabe de suas obrigações, agora só resta cumpri-las de forma correta.

A Freeway Brasil realizou o Projeto Ver-o-Gol, onde levou um grupo 15 de pessoas com deficiência visual com 10 acompanhantes e um cão guia, para assistir um jogo de futebol no estádio do Morumbi, onde receberam rádios da ESPN, com os quais ouviram a narração do jogo. No estádio, o grupo ficou no setor térreo vermelho do Morumbi, reservado e preparado para pessoas cegas. Esta iniciativa foi inspirada na experiência do Bayer04 Leverkusen da Alemanha em 1999. “Estes torcedores simplesmente vêem com os ouvidos”, afirmou Andréas Paffrath, encarregado das relações com os simpatizantes deste clube. O sistema foi aplicado nos 12 estádios que receberam jogos da Copa do Mundo na Alemanha em 2006, e em cada uma das 64 partidas do Mundial. Em cada um deles foram reservados 10 locais para cegos, deficientes visuais e seus acompanhantes. Atualmente a acessibilidade para pessoas com deficiência visual já está presente em 95% dos estádios alemães da 1ª divisão, graças à parceria com a ONG Fanclub – Sehhunde, especializada em pessoas cegas. A Freeway é uma agência de turismo pioneira na criação de roteiros turísticos acessíveis no Brasil, e atenta às questões de acessibilidade e inclusão no turismo através do departamento Freeway Acessível.

Porém a Copa não se resume somente aos jogos nos estádios. Segurança, transporte, hospedagem são outros itens importantes que compõem toda a infraestrutura necessária para a cidade receber um evento desse porte. Quase a totalidade dos hotéis brasileiros não cumpre a norma da ABNT onde é indicada que, pelo menos 5% do total dos dormitórios devem ser acessíveis. Existe também a possibilidade de se hospedar num navio cruzeiro, onde a acessibilidade é considerada muito boa.
Marcio Fortes, Ministro das Cidades, disse que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) da Mobilidade Urbana está sendo arquitetado pelo governo federal para impulsionar a qualidade do transporte para a Copa do Mundo de 2014. Segundo Fortes, há um cronograma a ser cumprido, mas, diferente daquilo que muitos pensam, os trabalhos que serão realizados não resolverão definitivamente os problemas do transporte público das cidades sedes. “Estaremos focados em desenvolver projetos para elevar a qualidade do deslocamento das torcidas apenas no âmbito do evento esportivo mundial, para isso o modal de ônibus tem muita importância e as tecnologias apresentadas terão papel fundamental”, revela o ministro. Para ele, a palavra chave de todo esse processo é ‘acessibilidade’. “Tenho notado que as montadoras estão aplicando sistemas tecnológicos importantes para o setor, mas o tema tem que estar no coração. Temos que ter cuidado com os nossos semelhantes com dificuldades de locomoção. E nessa vertente, surge os projetos para facilitar a entrada nos ônibus”, salienta.
Na África do Sul, local onde será realizada a Copa do Mundo de 2010, há um plano especial para pessoas com problemas de acessibilidade. O estádio possui 100 lugares para elas, com mais 100 assentos para seus acompanhantes. Neste caso as pessoas poderão ir com seu próprio carro até o estacionamento e utilizar os veículos especiais que realizarão o transporte dos cadeirantes e outras pessoas com problemas de locomoção até os estádios.
Assistir à Copa do Mundo é um sonho para muitos, mas certamente poucos brasileiros poderão realizá-lo, mesmo em 2014, quando o campeonato acontece no Brasil. O preço e a dificuldade de acesso aos ingressos fazem com que assistir a uma partida de um dos maiores eventos esportivos do planeta seja realmente uma façanha para poucos, e ricos. Atenta a isso, em 2006 na Alemanha, a Fifa criou as “Fan Fest”, grandes eventos com telões espalhados pelas cidades do país anfitrião, para tentar resolver o problema e, de quebra, faturar mais algum trocado. Ao todo, foram mais de 18 milhões de fãs que viram as partidas nestes locais, seis vezes mais do que os que compareceram nos estádios germânicos.
Desviando um pouco do eixo, mas continuando a tratar de grandes eventos esportivos e respeitando as devidas proporções, Barcelona quando sediou as Paraolimpíadas em 1992, fez uma grande reforma que permanece até hoje, sendo reconhecida como uma das cidades mais acessíveis do mundo, enquanto que o Rio de Janeiro que sediou os Jogos Parapanamericanos em 2007, continua com as mesmas dificuldades de antes. Para alcançar o sucesso na realização de um grande evento, é preciso um grande planejamento. Mas que seja um planejamento para deixar um legado permanente, pois fazer alguma modificação que seja temporária, somente para cumprir normas estabelecidas pela organização da Copa do Mundo, é pensar pequeno. Assim como a deficiência das pessoas não acabam com o final do evento, a infraestrutura criada para um evento tão nobre, também deveriam ser permanente.

*******Ricardo Shimosakai é Bacharel em Turismo pela Universidade Anhembi Morumbi/ Laureate International Universities, Coordenador da Freeway Acessível, Diretor da Turismo Adaptado, e colunista dos portais digitais EcoViagem, Diário do Turismo e Revista Reação. Membro do Centro de Vida Independente Araci Nallin, Brazilian Adventure Society, Rede Interamericana de Turismo Acessível, SATH (Society for Accessible Travel & Hospitality) e da ENAT (European Network for Accessible Tourism).

Fonte: Agência Inclusive

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