Novela traz à tona um problema enfrentado por muitos brasileiros
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"Ajudar a criar a Luciana foi um presente", diz consultora
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(07:59:09) Flavia Cintra: Boa noite! Estou feliz por estar aqui com vocês nessa noite. Espero poder trocar informações e experiências sobre questões relacionadas à inclusão social das pessoas com deficiência. Esse assunto, que é novo para muita gente, desperta dúvidas e curiosidades. Estou aberta para responder qualquer pergunta.
(08:00:25) jules: olá, Flavia! qual o maior desafio para criar o personagem junto com a Alinne?
(08:02:38) Flavia Cintra: Acredito que foi fazê-la se sentir como se sente de verdade alguém que se torna cadeirante de uma hora para outra. Logo que nos conhecemos, eu e Alinne fizemos laboratórios que proporcionassem uma maior aproximação dela com a imobilidade, a fragilidade e angustia natural de alguém que passa por um acidente como o que houve com a Luciana. Assistimos filmes, trocamos experiências, falamos sobre as sensações, os pensamentos que ocorrem nessa fase, nos emocionamos muitas vezes juntas. Em seguida, na cadeira de rodas, pudemos começar a construir juntas a postura que a Luciana teria, a expressão corporal, descobrindo as coisas que ela poderá fazer. Ainda estamos neste processo, aprendendo, descobrindo, crescendo junto com a personagem.
(08:02:53) julia: como foi para você retornar ao mercado de trabalho após o acidente?
(08:04:54) Flavia Cintra: Foi um processo de redescoberta, um degrau de cada vez. Escolhi usar minha indignação com as injustiças sociais como combustível para mover meu caminho profissional. Fundei uma ONG, em Santos - onde morava, 2 anos depois do meu acidente.
(08:05:07) embuscadeumsentido: o qnto é parecida sua história com a da luciana de viver a vida?
(08:08:10) Flavia Cintra: Sou um ponto de inspiração, mas a Luciana é um personagem de ficção que não reproduz a minha história. O Manoel Carlos está escrevendo cada capítulo levando em conta as diversas situações que acontecem de verdade na vida de quem passa por um acidente e se torna cadeirante. Para isso, ele conta com uma equipe de pesquisa e consultoria que o subsidia com todas as informações necessárias. Eu faço parte dessa equipe e estou muito satisfeita com os recados que a Luciana vem transmitindo ao longo da novela. Ela é uma moça linda, sonhadora, alegre, que encanta a todos com suas perguntas, comentários e emoções. Ela, assim como milhões de pessoas que passam por isso, está agora voltando a viver, a ter prazer, a arriscar coisas novas. A história dela retrata a realidade de milhões de mulheres que, como eu, vivem na condição de cadeirante.
(08:08:37) Beto Volpe: Boa noite, minha adorada amiga. Todo amor e respeito por você. Por favor, o que vc diria sobre os direitos sexuais e reprodutivos das pessoas com deficiências? São respeitados? Beijão, te amo!
(08:11:40) Flavia Cintra: Beto Volpe, MEU ÍDOLO!!! Que bom te encontrar aqui. Sua pergunta é necessária, obrigada por faze-la. Os direitos sexuais e reprodutivos das pessoas com deficiência ainda são desrespeitados e falta muita informação a respeito. A Luciana está, por exemplo, ajudando a esclarecer que existe sexualidade, vida sexual, prazer e alegria na vida de quem possui algum tipo de deficiencia. Me perguntam sempre se ela vai voltar a andar e eu sempre respondo que o que interessa é que ela voltará a ser feliz.
(08:11:55) Moderadora/UOL:
Flávia Cintra conta no Bate-papo UOL como foi criar a personagem Luciana da novela "Viver A Vida" junto à atriz Alinne Moraes (crédito: Divulgação)
(08:12:01) embuscadeumsentido: como o manuel carlos teve a ideia de abordar o tema na novela?
(08:13:57) Flavia Cintra: O Maneco é um ser humano especialmente sensível e preocupado com as causas sociais. Ele sempre toca em assuntos importantes nas novelas que escreve e, dessa vez, escolheu esse tema. Eu não sei como foi que ele tomou esra decisão, mas o agradeço muito por ter feito isso.
(08:14:32) Day: Eu não me senti como vc, pois meu acidente foi quando eu tinha 7 anos, qual foi o seu maior medo?
(08:16:40) Flavia Cintra: Eu tive medo da palavra "invalidez". Não queria me sentir inválida. Minha vida começou a andar quando decidi parar de listar tudo o que eu não podia mais fazer e passei a investir nas minhas possibilidades. Descobri que uma vida inteira é muito pouco para tudo o que se pode fazer. Então, comecei priorizar o que era mais importante e passei a me focar em conquistas possíveis. É isso que faço até hoje.
(08:16:57) Beto Volpe: Minha linda, para me despedir: resuma em uma frase a transformação que se operou em você de antes do acidente para agora. Beijos em Mateus e mariana.
(08:18:17) Flavia Cintra: Beto, essa é para vc: "Deus não escolhe os capacitados. Ele capacita os escolhidos"
(08:18:35) lizz: tenho uma filha que sofreu um acidente há quase seis anos e tb ficou tetraplegica!! ela ainda é muito revoltada nao aceita de jeito nenhum sua condiçao!!! e por isso para nós é muito dificil lidar com ela...só sai de casa qdo vai a medicos, diz que queer sair andando e como não pode prefere não sair!!!!!e não quer fazer terapia.tem 30 anos e hoje diz com todas as letras que se acha uma deficiente fisica, uma tetraplégica, uma ¨desgraçada!! Que pode ser feito pór ela????
(08:21:30) Flavia Cintra: Cada um tem o seu tempo. Há a fase da negação, da revolta, do luto... Eu passei por tudo isso. Se ela quiser, poderiamos conversar. No meu blog, conto sobre algumas situações que talvez a façam ver possibilidades... Meu e mail é flavia.cintra@uol.com.br. Caso queira, me escreva e conversamos mais sobre sua filha.
(08:22:34) embuscadeumsentido: sou jornalista, colega de profissão, meu tcc foi um livro-reportagem sobre pessoas com def. vc acha q a novela deu visibilidade para questão na mídia?
(08:25:25) Flavia Cintra: Nossa, muita visibilidade! Alguém numa cadeira de rodas entrando em um ambiente chama atenção sempre. As pessoas olham e apresentam os mais variados comportamentos. Tem aquelas mães que puxam o filho pelo braço, dizendo "não olhe!". Tem aquelas pessoas que lacrimejam de piedade. Tem as que ficam tentando perceber se o cadeirante precisa de ajuda e oferecem logo o auxilio, as vezes sem ser necessário. O fato é que há um estranhamento provocado pela falta de convívio e isso desaparece quando as pessoas tem oportunidade de se relacionar com o assunto. A televisão é um veículo poderoso nesse aspecto. Estou muito feliz com o crescente interesse pelo assunto desde que a novela entrou no ar.
(08:25:01) Moderadora/UOL:
Flávia Cintra ao centro junto aos atores de "Viver a Vida" (Globo): Patrícia Carvalho, Mateus Solano, Iara Mendes, Gisele Bezerra e Alinne Moraes (crédito: Divulgação)
(08:25:57) Psicóloga curiosa: Com que idade estão os seus filhos, você pensa em ter mais filhos, sentiu alguma dificuldade para cuidar deles, quem te ajudou quando eles ainda eram bebês?
(08:29:04) Flavia Cintra: Meus filhos tem 2 anos e meio. Minha gravidez não foi planejada e costumo defini-la como o melhor acidente da minha vida. Foi a fase de maior plenitude que já vivi. Amava minha barriga redonda e me emocionava todos os dias quando sentia meus bebês se movimentando. Nada era difícil para mim, me sentia poderosa, feliz, bonita, tranquila, saudável e muito realizada. Com o nascimento do Mateus e da Mariana, descobri que eu nasci para ser mãe. Não há nada no mundo que me deixe mais feliz que ouvir a risada deles. Me sinto abençoada por tê-los na minha vida e adoro que eles sejam dois. Muita gente se espanta quando digo isso porque pensam que dois bebês de uma vez dá muito trabalho. Eu nunca tive um filho só e, por isso, não sei como é. Eu só sei ser mãe de dois e não acho que dá trabalho porque tudo o que eu faço para eles, com eles e por eles só me dá prazer. Para isso tenho a ajuda de uma babá e uma assistente pessoal. Minha mãe mora a poucos quarteirões da minha casa e também está sempre a postos para me ajudar.
(08:29:10) Edudao: Flavia, quantos meses ou anos demoraram para voce "aceitar" o que havia acontecido e passar a perseguir o objetivo de sair da cama, levantar a cabeça, dar a volta por cima e levar uma vida "comum"?
(08:32:32) Flavia Cintra: Passei 6 meses só na cama, não conseguia me sentar na cadeira de rodas. No centro de reabilitação, ví muitas pessoas conseguindo ter uma vida bacana. Pensei "se eles conseguem, eu também tenho que conseguir". Resolvi investir naquilo, mesmo sem acreditar. Me irritava tanto perceber que as pessoas sentiam pena de mim, que comecei fingir que não sofria. Fingi tão bem que virou verdade...rs. Um ano depois do acidente, eu já ia à praia e aos lugares de antes.
(08:33:30) Leonardo: A novela 'viver a vida' aborda um tema de suma importância para nossa sociedade preconceituosa. Vc tem notado alguma mudança de postura em relação ao tratamento que as pessoas dão aos cadeirantes, depois que a novela passou a exibir essa questão?
(08:36:41) Flavia Cintra: O fato de termos agora 350 pessoas nessa sala é um sintoma dessa mudança. Até pouco tempo atrás ninguém viria. A visibilidade dado ao assunto por meio da novela instiga perguntas que talvez voce nunca fizesse por falta de oportunidade de pensar nessa questao. Informação é o principal remedio contra preconceito.
(08:37:20) elis-pianca: Flavia, porque para um deficiente fisico com qualificaçoes, ainda esta tao dificil de conseguir emprego?
(08:40:27) Flavia Cintra: Estamos progredindo, avançando, mas é um processo de transformação social que não acontece da noite para o dia. A falta de acessibilidade e a falta de informação ainda entravam a empregabilidade de que vive com alguma deficiencia, mas as coisas estão andando. Conheço muito mais pessoas com deficiencia empregadas que desempregadas. A lei de cotas tem acelerado esse movimento de inclusao e precisamos utiliza-la como uma ferramenta positiva, mas transitória.
(08:40:44) embuscadeumsentido: qnto a acessibilidade, o que pode ser feito sem ser necessário altos investimentos do poder público?
(08:43:39) Flavia Cintra: O caminho é projetar espaços acessíveis para nao ter que reformar depois. Os investimentos devem ser vistos exatamente como investimentos e nao como custos. Outro dia, eu soube que nao há uma rota de visitação acessível no congresso nacional. Um escandalo! O Decreto 5296 dá todas as diretrizes de acessibilidade, agora falta colocarmos aquilo tudo na prática.
(08:52:04) Moderadora/UOL:
Para Flávia Cintra, a melhor forma de garantir acessibilidade aos deficientes físicos é planejar melhor os espaços, de forma que extes não exijam uma reforma futuramente (crédito: Divulgação)
(08:44:27) Cintia: Me apaixonei por um cadeirante, e até hj as pessoas nos olham com estranheza, principalmente por acharem que Defi não tem uma vida sexual ativa...a novela vai abordar sobre a sexualidade de um cadeirante?
(08:47:56) Flavia Cintra: Sim. Esse assunto será explorado na novela e tenho certeza que voce vai gostar, pois o Maneco escreve de um jeito muito cuidadoso e delicado. Depois que adquire uma deficiencia, a pessoa aprende a conhecer melhor o próprio corpo, a se relacionar na intimidade e oferecer prazer ao parceiro. É um grande engano acreditar que alguém fica assexuado só porque adquire uma deficiência. A sexualidade é inerente à condição humana e não se limita apenas às questões motoras ou sensoriais. Quando eu fiquei grávida, as pessoas me perguntavam surpresas "Mas, como foi que você fez?". Eu respondia "Você realmente quer que eu te conte?".
(08:48:24) Priscila Sampaio: Flávia como foi o convite para vc ser consultora da Alinne Moraes?
(08:49:08) Flavia Cintra: Meu telefone tocou e recebi o convite. Quase desliguei achando que era trote.
(08:50:01) Psicóloga curiosa: Hoje você se submete a alguma atividade física, fisioterapia ou algo do tipo, como é a sua rotina, o que mudou desde o acidente?
(08:52:37) Flavia Cintra: Faço alongamentos, mas não mais com fisioterapeutas. Aprendi a conhecer meu corpo e a cuidar dele. Desde que as crianças nasceram, não tenho muito tempo para isso... acaba ficando sempre para depois.
(08:53:19) Mellisa: olá, acredito que somente quem passa por essa situação aprende a dar mais valor para a vida e pequenas coisas do dia-a-dia. Qual foi seu maior desafio, aquilo que vc passou a pensar, e fazer que antes talvez vc nem dava tanta atenção?
(08:57:12) Flavia Cintra: Sinceramente, eu não acho que ter uma deficiência me faça ver o que outras pessoas não conseguem. Acho que todos nós vivemos situações suficientes para motivar que se valorize a vida e pequenas coisas do dia-a-dia. Nao gosto de ser vista assim, como se eu fosse uma heroína, eu nao sou... Tem dias que eu tambem reclamo de coisas pequenas, me irrito no transito e se tiver em TPM choro como qualquer outra mulher.
(08:57:33) Maahh: Flavia, você acha que Luciana deveria voltar a andar ou deve continuar cadeirante para ser um exemplo de que a felicidade pode ser atingida de qualquer maneira?
(08:58:51) Flavia Cintra: O Maneco é quem decide se ela volta a andar ou não. O que eu posso garantir, é que ela voltará a VIVER A VIDA e a SER FELIZ.
(08:59:35) Flavia Cintra: O tempo passou muito rápido. Eu adorei... obrigada pela presença de todos. Boa noite!
(08:59:56) Moderadora/UOL: O Bate-papo UOL agradece a presença de Flavia Cintra e de todos os internautas. Até o próximo!
Fonte: Uol
olá,td bm? queria saber se vc pode me ajudar,pois sou de Itu e queria saber se existe algum site d relacionamento(sério),pois sou deficiente e já não aguento mais preconceito,se puder me ajudar,desde já AGRADEÇO!
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