sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

A moçada está saindo

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por ANDREI BASTOS

Foi bonito de se ver. Na semana que antecedeu o Natal fui duas vezes ao shopping comprar presentes e tive gratas surpresas. Depois de batalhar por uma vaga reservada para pessoas com deficiência, todas ocupadas, tive que esperar na fila para usar o banheiro adaptado e vi muitas cadeiras de rodas circulando pelos corredores e lojas.
Não é à toa que o símbolo de acessibilidade mais difundido e conhecido é uma cadeira de rodas. Claro que outras pessoas, com outras deficiências, também foram às compras, mas a idéia de um espaço acessível conquistado é facilmente passada pela imagem dos cadeirantes circulando com facilidade.
Mais do que uma simples inclusão nos templos do consumo, esta nossa maior afluência aos shoppings resulta da irreversível elevação da nossa autoestima, tanto por conquistas de natureza pessoal como política. Nossa determinação e luta constante fizeram com que chegássemos à atual situação e vão nos levar mais longe ainda. A porta do consumo é a mais fácil de ser aberta, pois a chave é o dinheirinho nada desprezível de 25 milhões de brasileiros e seus familiares.
É preciso que tenhamos clareza em relação a esse poder econômico, significativamente aumentado por nossa inclusão cada vez maior no mercado de trabalho, e saibamos usá-lo para efetivar todas as outras conquistas já consolidadas nas leis. Se associarmos essa compreensão às questões de direitos do consumidor e de que somos tão pagadores de impostos quanto os outros, a despeito de isenções fiscais plenamente justificadas que nos atendem, potencializaremos nossa força política na luta pela cidadania plena.
Por outro lado, também sabemos que usuários de vagas reservadas em shoppings ainda representam uma minoria entre nós e que, por isso, devemos fazer com que a acessibilidade desse comércio de luxo seja implementada em todas as construções e transportes das cidades. Afinal, nenhum dos sorridentes cadeirantes “consumistas” deve ter chegado de ônibus. Mas, de qualquer maneira, foi bonito de se ver porque a diferença foi grande “em relação ao mesmo período do ano anterior”, marcando 2009 como o ano em que muitos cadeirantes saíram da toca. Na minha última incursão consumista, ao sair do elevador me deparei com um congestionamento de cadeiras de rodas. Foi divertido porque, sem perceber, de repente estávamos num papo solto como se fôssemos velhos conhecidos, rindo e brincando com nossas cadeiras e muletas, e atrapalhando o trânsito, é claro. Foi quando um jovem e bem humorado cadeirante do grupo, olhando para a confusão, expressou o que percebíamos ao dizer que “a moçada está saindo”.
É isso mesmo: estamos saindo para a vida, para o mundo, e tudo indica que 2010 será o ano em que provocaremos congestionamentos também nas avenidas, ruas e pontos de ônibus, lutando por acessibilidade para todos. Vocês já imaginaram o impacto que apenas dois ou três cadeirantes podem provocar se tentarem pegar, ao mesmo tempo, o mesmo ônibus adaptado sobre chassi de caminhão? É primeira página na certa.

Fica o aviso para governantes incompetentes e máfias do transporte coletivo: a moçada está saindo e vai ganhar as ruas. Feliz 2010 acessível!

Fonte: Agência Inclusive

DEFICIENTE ALERTA foi criado para orientar,educar,protestar e ajudar todos com deficiência. www.deficientealerta.blogspot.com

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