sábado, 2 de janeiro de 2010
Sexualidade e Deficiência
Embora vivamos em pleno século XXI, vergonhosamente falar de sexualidade ainda constitui um tabu, mesmo para as pessoas “normais”, mas, sobretudo para os deficientes.
Não deveria ser vergonha falar sobre sexo. Vergonha é não se informar, pois a falta de informações leva a julgamentos errados e consequentemente ao possível preconceito e descriminação. Muitas famílias tratam seus membros portadores de deficiência como crianças, restringindo -ou mesmo proibindo- seu acesso à vida sexual. Tratam-nos como vegetais, como se a deficiência os privasse dos sentimentos junto à imobilidade física. E, o que ainda é pior, fazem isso na maioria dos casos por pura ignorância.
Quando se fala no sexo, automaticamente pensa-se na penetração. Mas a verdade é que as preliminares é que fazem o acto sexual ser bom ou não. E a verdade maior é que, para um casal ser feliz, não tem obrigatoriamente que haver sexo, ao contrário, o que leva à verdadeira felicidade é o amor. O sexo é apenas um complemento e um meio de extravasar a paixão, mas o amor em si é muito mais que isso. O amor verdadeiro se quisermos nem depende do contacto físico, poderá ser basicamente psíquico: carinho, ternura, atenção, cumplicidade, paciência e, acima de tudo, respeito. O sexo por sexo é delicioso. Mas só isso. O sexo com amor é divino, transcendental, arrebata o físico, extasia a psique e aproxima as almas.
CONVÉM TER ALGUNS CUIDADOS
É de extrema importância a compreensão da parceira/o. No caso específico do lesado medular -perdemos o controle da bexiga e dos intestinos- pode haver acidentes durante o coito, como a perda acidental de urina ou fezes em casos mais raros. Pois, à revelia do controle cerebral, os movimentos e o estímulo do pénis e ou vagina podem estimular esses órgãos, acarretando os acidentes citados. Por isso a compreensão da parceira ou do parceiro torna-se imprescindível. Portanto, o adequado a fazer é dialogar bastante.
No caso do deficiente que faz cateterismo (esvaziamento da bexiga por meio de sonda, várias vezes ao dia), o melhor é esvaziar bexiga antes do coito. Aqueles que usam algália diariamente o tubo deve ser dobrado paralelamente ao pénis de forma a não nos aleijarmos e nem a parceira. No caso das meninas, se usarem esvaziamento sugestão é a mesma que homens. Se usarem algália, encaminhar tubo para uma posição em que não cause desconforto. Alguns gostam inclusive de recolher saco colector de urina, para um saco não transparente. Cada casal irá ter de se adaptar e escolher sempre melhores alternativas.Cabe-nos também escolher a posição para o acto sexual, que vai variar em função da actividade sexual que queiramos ter. Consulta teu médico para saber teus limites e quais as posições que podes adoptar.
Importante é saber que nenhuma forma de deficiência física ou mental impossibilita a pessoa dos prazeres do sexo.
OUTROS DEFICIENTES
Noutros tipos de deficiências a sexualidade terá outras peculiaridades. O deficiente devido poliomielite (paralisia infantil), como paralisia cerebral, etc., perdem a capacidade motora, mas continuam com sensibilidade preservada. Desta forma, devidamente estimulados, podem chegar ao orgasmo e ejacular como qualquer pessoa dita normal. Assim como conceder filhos sem as dificuldades implicadas a nós tetraplégicos por lesão medular.
O MAIS IMPORTANTE REALMENTE É QUE, COM SEXO OU NÃO, HAVENDO AMOR, A FELICIDADE ESTÁ AO ALCANCE DE TODOS E ISSO NÃO DEPENDE DE SER OU NÃO DEFICIENTE.
MAIS, A MAIOR DEFICIÊNCIA QUE EXISTE É A DA ALMA, QUE GERA DISCRIMINAÇÃO E PRECONCEITO. ESSES SENTIMENTOS SÓRDIDOS LEVAM INFELICIDADE AO SER.
UM GRUPO DE ESTUDANTES DO VII CURSO DE LICENCIATURA EM ENFERMAGEM DA ESCOLA SUPERIOR DE ENFERMAGEM DE VIANA DO CASTELO FIZERAM ESTE ESTUDO ABAIXO:
O acto sexual no homem consiste na erecção, ejaculação e orgasmo. A possibilidade de erecção depende do nível da lesão e desta ser completa ou incompleta. Existem dois centros medulares que controlam a erecção: o dorso-lombar (D11 a L1) responsável pela erecção psicogénica (a que ocorre em resposta a pensamentos eróticos), e o sagrado (S2, S3 e S4), pela erecção reflexogénica (a que ocorre por estimulação directa dos órgãos sexuais). A maior parte dos homens com lesão medular são capazes de ter algum tipo de erecção. As lesões da região sagrada são as únicas que eliminam a capacidade do homem de conseguir qualquer tipo de erecção. Geralmente, quanto mais alto for o nível da lesão, mais normal poderá ser o funcionamento sexual. A maioria dos homens com lesão medular não tem erecção psicogénica mas consegue ter erecção reflexogénica . (Alves et al,2001)
De acordo com Suplicy (1999), em alguns homens com lesão na medula espinal é observado o priapismo (erecção persistente e bastante dolorosa, sem ser acompanhada de qualquer tipo de prazer e bem-estar), impotência e falta de ejaculação. Os estudos sobre os efeitos da lesão medular no funcionamento sexual do homem são bastantes limitados. Sabe-se o que o que vai determinar a resposta sexual e ejaculatória é o local da medula onde ocorre a lesão, por exemplo, os indivíduos com lesão na medula espinal acima da quarta vértebra torácica podem experimentar uma excessivamente activação do sistema nervoso autónomo durante a excitação sexual, com uma forte dor de cabeça. A erecção baseia-se num fenómeno do tipo neurológico, endócrino e vascular. Se ocorrer lesão medular, é afectado o mecanismo fisiológico da mesma, com o qual pode surgir a impotência. Assim um quarto dos paraplégicos não apresentam qualquer tipo de erecção, e nos restantes a maioria é do tipo reflexa, sem que exista um controlo voluntário sobre a mesma. A ejaculação não se produz em mais de 90% dos deficientes físicos por uma lesão medular, ficando deste modo alterada a possibilidade de ejaculação, de orgasmo e assim de chegar à paternidade.
Tanto no homem como na mulher é possível o orgasmo, embora seja descrito como uma experiência “diferente” em relação à situação antes da lesão. Relatam frequentemente a percepção do alívio da tensão e, apesar da perda sensorial ser extensa, referem existir uma maior sensibilidade no restante tecido intacto.
Segundo Gispert, ao contrário do homem, na mulher, as alterações da sexualidade não são tão evidentes, uma vez que estas são capazes de manter uma relação sexual, com coito, e existe a possibilidade de maternidade. No entanto, produzem-se igualmente alterações consideráveis, dependendo da gravidade da lesão ou doença ao nível neurológico.
De acordo com Alves et al (2001), a mulher com lesão medular consegue participar activamente no acto sexual, mas uma vez que há diminuição ou ausência de lubrificação vaginal e o ingurgitamento do clítoris está geralmente diminuído ou ausentes, é frequentemente necessária aplicação de lubrificante hidrossolúvel em substituição da lubrificação natural, para facilitar a relação. Pode surgir amenorreia ou irregularidades menstruais nos primeiros meses após a lesão. Logo que os períodos menstruais regressam, a fertilidade retoma o seu nível pré-lesional. Pode surgir maior número de infecções urinárias, anemia ou dificuldade em determinar o início do trabalho de parto, por ausência de sensibilidade.
Em relação à fertilidade, no homem ocorre frequentemente uma baixa contagem de espermatozóides ou mesmo infertilidade. A mulher habitualmente conserva a capacidade de concepção, logo que esteja restabelecido o ciclo menstrual (cerca de 4 a 6 meses após a lesão). A gravidez pode decorrer em segurança, e o parto pode ser natural. Contudo, a incidência de problemas nas vias urinárias e de disreflexia autónoma, tanto durante a gravidez como no trabalho de parto, pode levar a que o parto ocorra por cesariana.
Pode-se assim dizer que a sexualidade de uma pessoa com lesão medular está comprometida em qualquer das suas funções básicas: erótica, relacional e produtora, como consequência directa da afectação neurológica e indirectamente da reacção psicológica. No entanto uma orientação e tratamento adequados possibilitarão que a pessoa que sofreu a lesão volte a ser capaz de manter relações sexuais satisfatórias, para ela e seu companheiro bem como também aceder igualmente à paternidade ou maternidade.
É importante considerar que a orientação e tratamento da sexualidade de uma pessoa com deficiência não deve ser considerada qualitativamente distinta da de uma pessoa sem qualquer deficiência, uma vez que somos culturalmente e fisicamente seres sexuados, embora cada um tenha necessidades específicas dependendo da idade, personalidade, situação física, oportunidades e capacidade de relação. Existem actualmente diferentes técnicas práticas que procuram minimizar as consequências de uma lesão medular na área sexual.
No caso do homem, os programas são encaminhados para o tratamento da falta de erecção e de ejaculação. Quando a erecção reflexogénica não dura o tempo suficiente para permitir o coito, existem vários recursos, entre eles os implantes, as bombas de vácuo e as injecções intra cavernosas. As próteses penianas apesar de não solucionarem o problema, permitem ao homem obter a erecção e poder realizar o coito, factor este que constitui grande importância psicológica. A obtenção de esperma, quer para inseminação artificial, quer para estudo pode ser conseguida com vibração e electroejaculação.
No caso da mulher, não existem técnicas similares e o tratamento enquadra-se de forma global, com vigilância ginecológica, controlo da natalidade, aprendizagem de técnicas de sensibilização corporal, entre outras.
Fonte: http://tetraplegicos.blogspot.com
DEFICIENTE ALERTA foi criado para orientar,educar,protestar e ajudar todos com deficiência. www.deficientealerta.blogspot.com
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