sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Sem melhora, jovem fala em voltar

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Capixaba recebeu três aplicações de células-tronco e resultados foram mínimos; mesmo assim, acha que valeu a pena

Herton Escobar

A esperança gerada pelas células-tronco - e pela angústia de estar preso a uma cadeira de rodas - é tão grande que mesmo pacientes que não melhoraram querem voltar à China para receber novas injeções.
O jovem capixaba Felipe Ramos, vítima de um acidente de carro que o deixou paraplégico em 2007, foi para lá em agosto do ano passado. Pagou US$ 20 mil, mais as passagens, para passar 29 dias em um hospital e receber três aplicações de células-tronco na espinha. "Não me prometeram nada", diz. "Eles deixam muito claro que o tratamento pode dar resultado ou não. Até fazem você assinar um papel sobre isso."
Os médicos chineses disseram que ele sentiria resultados no prazo de três a quatro meses. Passado esse tempo, Ramos não sabe se mudou alguma coisa. Diz que voltou a transpirar na cabeça e nos pés e sente que seu equilíbrio melhorou um pouco. "Fico meio duvidoso de falar que recuperei algo que não teria recuperado do mesmo jeito, só com a fisioterapia", afirma. "Se não tiver resultado em um ano, disseram para eu voltar lá para uma nova aplicação, por um preço menor."
Ainda assim, Ramos acha que o esforço valeu a pena. "Se não tivesse ido eu nunca saberia", diz. "Se tivesse que voltar hoje, eu voltaria."
A engenheira Sandra Suely Corrêa também pretende levar o filho Joaquim, de 2 anos, de volta para a China. A primeira viagem foi em outubro e custou R$ 60 mil. Vítima de paralisia cerebral, causada por uma asfixia durante o parto, Joaquim recebeu aplicações de células-tronco na veia e na medula espinhal - seis injeções ao todo.
Sandra diz que o equilíbrio do filho melhorou um pouco, mas que ele ainda não tem controle de cabeça nem de tronco. A parte cognitiva parece ter melhorado um pouco também. "Antes você falava com ele e ele não olhava. Agora olha." Amigos e vizinhos do prédio onde moram, no Rio, comentam que Joaquim parece melhor, mais feliz e menos irritado.
"Acredito que é um efeito do tratamento", diz Sandra. Tanto que ela quer voltar à China já em maio. "Não quero esperar dez anos para que a terapia seja validada pela medicina. Quero que o Joaquim fique bom agora. Quero que ele brinque hoje, que vá para a escola hoje."

Dúvidas e críticas

"Essas pessoas estão sendo 100% enganadas", diz o médico e secretário de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde, Reinaldo Guimarães. Segundo ele, essas terapias não podem ser oferecidas no Brasil porque não há provas de que sejam eficientes ou seguras. Para isso, diz, ainda é preciso fazer muitos experimentos controlados em animais e seres humanos. "Não há dúvida de que as células-tronco têm grande potencial, mas o caminho para uma terapia é longo."
O médico Júlio Voltarelli, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, que pesquisa o potencial terapêutico das células-tronco, também condena as práticas chinesas. "Acredito, sim, que doenças como a esclerose lateral amiotrófica poderão um dia ser curadas com células-tronco, mas é algo que precisa ser testado", diz. "Não se pode vender isso como uma técnica comprovada."
"Nós temos todas essas células aqui. Se achássemos que elas pudessem ajudar, seríamos os primeiros a oferecer o tratamento", afirma Mayana Zatz, do Centro de Estudos do Genoma Humano da USP.
Até associações de pacientes duvidam dos resultados. Naelson Ferreira, presidente do Centro de Referência em Distúrbios do Movimento, organização que presta assistência a mais de 700 famílias com doenças degenerativas em Campo Grande (MS), acha que os efeitos relatados por pacientes na China não têm nada a ver com células-tronco. "Nós chegamos aos mesmos resultados só com terapia convencional", diz. "Acho que tem um efeito psicológico muito forte nisso. Já vi pessoas pobres no centro que voltaram a andar sem tomar nada, só por sentir que finalmente iriam receber um tratamento de verdade."

Fonte: O Estado de São Paulo

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