sexta-feira, 2 de abril de 2010

Pequenas e grandes pessoas

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Em busca de sonhos, os anões vencem os obstáculos que enfrentam no dia a dia

Foto:" Não seleciono meus amigos pela estatura deles e sei que eles fazem o mesmo". - Maria Rita

Todo ser humano passa por dificuldades durante a vida, afinal, quem nunca recebeu um "não" após uma entrevista de emprego? Agora, imagine receber 25 negativas seguidas? Isso faria com que muitos otimistas desistissem de exercer a profissão, inclusive os de estatura "normal", mas para a enfermeira Kênia Hubert, 53 anos, anã, o preconceito só serviu como combustível para que ela lutasse em busca do que acredita. "Me questionavam sobre protocolos de atendimento no caso de uma parada cardíaca, por exemplo, e, algumas pessoas, chegaram até a duvidar que eu realmente fosse formada. Trabalho há quase 30 anos na Beneficência Portuguesa, única instituição que me deu uma chance, e ainda sofro com discriminação diariamente", conta.
Casada com o publicitário Hélio Pottes, 53 anos, que também é anão, Kênia teve uma filha, Maria Rita, e juntos enfrentam os obstáculos de viver em um mundo feito para gente grande. Eles destacam que, o pior preconceito, está na falta de acessibilidade em geral, e não só na cabeça ou atitude das pessoas. "O desrespeito faz parte da nossa vida, além das dificuldades no cotidiano, já que tudo é pensado para as pessoas altas", comenta Hélio. As dificuldades que fazem parte da rotina dos três é a altura que os degraus e barras de apoio nos ônibus possuem; sem adaptação ou ajuda é quase impossível usar um caixa eletrônico ou pedir uma informação em balcão público; os banheiros, elevadores, as gôndolas de supermercado sempre são inacessíveis. Uma simples maçaneta como aquelas redondas, por exemplo, pode ser uma barreira na vida de quem tem menos de um metro e pouco de altura.
Os casos de nanismo não são algo raro no Brasil. A cada 25 mil nascimentos, um pode ser anão. E algo que impressiona é quando um casal de anões torna se pais. Kênia e Hélio são questionados sobre a gestação da filha. "Foi tudo normal, inclusive o nascimento dela. Quando Maria Rita entrou na adolescência, chegou até a perguntar por que decidimos aumentar a família se a probabilidade do nanismo era grande. Depois, passou essa fase de revolta e, hoje, ela entende que pode e deve levar uma vida normal", fala Kênia.
Uma vida normal
Quem olha para a bonita Maria Rita nem imagina do que essa pequena é capaz. A sorridente menina faz equitação desde os 8 anos, e já coleciona medalhas nesse esporte em que são necessários coragem e muito treino. Aos 18 anos, medindo 1,25 m, a jovem mostra maturidade em suas convicções: "Eu nunca pediria para não ter nanismo porque eu posso fazer tudo o que as outras pessoas fazem, a diferença é que tenho maior consciência do meu corpo e de meus limites", explica a moça.
Ativa, a menina estuda e também pratica dança. Mas sua autoestima nem sempre foi assim, blindada. Logo que entrou na adolescência, ela questionou os pais sobre ter a deficiência e admite que se incomodava com ela. "Os garotos não me olhavam da mesma forma que olhavam para as outras meninas e essa discriminação me deixou pouco à vontade, mas isso logo passou".
A garota vive rodeada por amigos inclusive na Internet, onde divide experiências e conversas sobre o futuro com anões e pessoas de estatura normal. "Temos comunidade no Orkut e meus amigos sempre me respeitaram. Quando surgem piadas, sempre levo na brincadeira, mas quando vem de pessoas estranhas, finjo que não ouço", diz.
Essa segurança vem do apoio familiar muito forte desde sempre. Ela pretende cursar Zootecnia em breve, e está se preparando para isso. Nas horas vagas, vai a balada, ao cinema e adora dançar. "Considero a minha vida igual a de muitos brasileiros. Normal eu não digo, afinal não são todas as famílias que tem uma casa de anões. As únicas coisas que não posso fazer é ir em um ou outro brinquedo no parque de diversões ou correr uma maratona, por exemplo. O resto, eu tiro de letra", finaliza.

Foto: Celso Vick
Fonte: Revista Sentidos

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