sexta-feira, 16 de abril de 2010

Um dia de pop star

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Manoel Magalhães

Vivi ontem meu dia de astro. Para quem não sabe, escrevi o roteiro do filme City Down, a história de um diferente, com elenco portador da Síndrome, sendo o ator Vagner Vargas a exceção, que está sendo rodado em Pelotas, com direção de José Mattos e P.C. Nogueira. Portanto, gravamos na tarde de ontem, no teatro do Círculo Operário Pelotense – COP, cena onde, obrigatoriamente, a platéia tinha de estar lotada. E de fato lotou. Jamais havia visto tanto downs reunidos, acompanhados de seus pais ou responsáveis, daqui de Pelotas e de cidades vizinhas, como Rio Grande, Canguçu, Bagé e etc.
A chegada dos extras estava marcada para as 14hs. À medida que iam chegando, ocupavam as cadeiras do teatro, curiosos, atentos a tudo que se lhes acontecia em derredor. Neste ínterim, equipe técnica preparava o ambiente para gravar a cena, onde o personagem não down, acomodado a uma cadeira no meio do palco, faria palestra a atenta platéia.

Chegado o instante da gravação, a curiosidade acentuou-se. Os downs, cientes da importância da cena, entraram no clima e, de extras, viraram personagens profunda e espiritualmente ligados à história. Foi, asseguro-lhes, um instante mágico. Em cada rosto, na expressão dos olhos, na postura de corpo, tudo, enfim, dava mostras da perfeita sintonia da platéia com o personagem solitário, voz fendendo o silêncio que se plasmara no ambiente, cujo som, até agora, ainda ressoa em meus ouvidos.
Ao cabo da seqüência, os diretores, emocionados, agradeceram à presença dos downs e o carinho dos pais e amigos que abriram mão de outros afazeres para tornar real o sonho de cada um deles, cuja emoção saltava dos olhos.
Quando um dos membros da equipe anunciou minha presença, convidando-me para ir até o palco, o estopim do meu momento de pop star acendera-se. Dirigi-me na direção dos demais colegas de equipe profundamente emocionado. Enquanto caminhava, um grupo de downs, atores e extras, ergueram-se de suas cadeiras, gritando meu nome: “Manoel!” “Manoel!” “Manoel”!
Vocês têm idéia do que isso significa? Parado diante daquela elétrica platéia, olhando não exatamente um rosto, mas 160 rostos alegres, descontraídos, cuja emoção fez-se o mais puro mel, pensei: minha nossa, por essa eu não esperava! Toda aquela gente escapara do papel e, mercê da mais fantástica prestidigitação, tornaram-se carne, ossos e emoções.
Tarde da noite, tentando caçar o sono que brincava de esconde-esconde, cheguei à conclusão de que as coisas mais valiosas estão nas situações mais simples.

Fonte: Amigos de Pelotas

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