Eliana Zagui teve paralisia infantil e depende de aparelhos para sobreviver.
Ela foi até a exposição acompanhada de colega com o mesmo problema.
Uma paciente que vive há mais de 40 anos no Hospital das Clínicas de São Paulo usa a arte para se desenvolver mesmo presa a uma cama e a aparelhos. A artista plástica Eliana Zagui deixou o hospital para participar de uma exposição de arte e será a artista homenageada, expondo as telas que pinta.
Eliana mora na UTI do Instituto de Ortopedia do Hospital das Clínicas desde a década de 1970. Ao lado dela está Paulo Henrique Machado, que chegou um pouco antes. Os dois foram vítimas do último grande surto de paralisia infantil no estado de São Paulo. Das cerca de 20 crianças que contraíram a doença na época, só os dois sobreviveram.
As famílias não tinham condições de cuidar delas em casa e se viram obrigadas a mantê-las na instituição. “Os médicos chegaram e falaram que a estimativa de vida para crianças que vinham com esse tipo de doença era de apenas 10 anos. Estou com 42 anos bem vividos, graças a Deus e é algo que surpreende”, aponta Machado.
Depois de tantos anos morando neste ambiente, eles se adaptaram e aprenderam a superar desafios. Estudaram e conseguiram diplomas do Ensino Médio. “Eu pretendo fazer, se tudo der certo, faculdade de psicologia. Preciso dar um jeito nos loucos daqui”, planeja Eliana. “Tenho amigos. Tem o pessoal que trabalha aqui que acaba fazendo papel de família. Acabamos meio que adotando todos.”
Paulo nunca viu um retrato da mãe, que morreu no parto. Mas, com um computador - presente dos amigos - descobriu o mundo. Fez amizades com o diretor Carlos Saldanha, da animação “Era do gelo”, que veio visitá-lo no ano passado. Inspirado, ele já sonha em criar seu próprio filme. Já tem até o personagem principal, que é deficiente físico.
“Nesses episódios eu quero colocar condições que o deficiente encontra de obstáculos difíceis de transpassarem, mas com muito humor, imaginação, criatividade, tem como passar aquele obstáculo. É isso que eu pretendo mostrar a todo mundo”, comenta.
A arte proporciona aos dois amigos alguns momentos raros. Os dois foram até a exposição de Eliana. A partida envolveu muitos funcionários do hospital. Foi cercada de cuidados e carinho. Os dois dependem de aparelhos respiratórios para sobreviver. Mas, por algumas horas, como em uma dessas histórias do cinema, podem se libertar deles.
“Como a gente não sai muito, esses momentos são divertidos”, brinca Paulo. Os dois chegam à exposição como artistas que atravessam o tapete vermelho. Mais de 50 quadros feitos por Eliana foram expostos. Em algumas telas, seu próprio rosto é a inspiração.
“Não importa os riscos que possa haver, eu prefiro correr risco do que deixar de viver”, resume Eliana. “A mente humana não tem limites. Se não tem limites, você é capaz de tudo”, diz Paulo.
Eliana também já está trabalhando num segundo projeto: o de um livro sobre a vida dela como moradora do hospital. Paulo só espera uma chance para trabalhar com cinema.
Fonte: Bom Dia Brasil - 16/07/2010
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São pessoas incríveis!
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