quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

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Corrigir a imagem distorcida que algumas pessoas têm dos portadores de deficiência é a missão de Beth Caetano. Desde que ficou paralítica, ela ajuda cadeirantes a superar limitações.

Há 24 anos, a nossa entrevistada sofreu um acidente. A partir dali, passou a usar definitivamente cadeiras de rodas. Essa experiência deu a ela uma visão mais profunda dos problemas e das possibilidades de solução para pessoas nas mesmas condições que ela. Conheça Beth Caetano. RJTV – Até 1984, você dançava, escalava montanhas, tinha uma vida ativa. Então, aconteceu um acidente. Você ficou imobilizada e passou a andar em cadeira de rodas. Conta qual o choque com essa mudança de vida.
Beth Caetano, dançarina e voluntária – Foi um grande choque achar que você não vai mais a lugar nenhum. A paralisia assusta muito, incomoda no primeiro momento, porque você desconhece aquilo, se pergunta como vai caminhar, em que direção vai. É um choque grande. Foi a partir desse silêncio das minhas pernas, achar que não ia mais a lugar algum, que eu pude fazer um caminho na minha própria direção, no meu tempo e no meu próprio ritmo.
De que forma essa transformação começou?
Essa transformação começou efetivamente e definitivamente a partir do meu reencontro com a dança. Eu percebi que o meu movimento interno, o contato com o meu desejo é o que poderia me levar a qualquer lugar. Se no meu caso, eu já era bailarina, pude perceber, depois, que com o meu caminhar, a minha forma de expressão pela dança, você percebe que a dança vem de dentro de você. Se você quer voltar a dançar, você vai voltar a dançar, mesmo que seja em uma cadeira de rodas. Os surdos dançam, um cego pode dançar, uma pessoa muito tímida pode dançar.
Você se ligou a um grupo, uma instituição, que existe há mais de 20 anos na Gávea. Fala um pouco sobre ela.
Eu trabalho no Centro de Vida Independente (CVI), que é a primeira instituição desse gênero na América Latina. Foi fundada em 1988. O que me atraiu foi a missão de fortalecer a pessoa com deficiência. Nosso objetivo é que as pessoas percebam que fazendo contato com o desejo dela, ela vai aonde quiser. Se é deitado, se é na cadeira de rodas ou de cabeça para baixo, isso é outra história. Ela tem que perceber que ela tem a escolha. Eu posso precisar de uma pessoa que me ajude a me locomover, que empurre a cadeira ou ajude a subir uma escada. Mas quem decide aonde eu vou sou eu. Funcionamos na PUC-Rio, na Gávea. Qualquer pessoa pode chegar e vai encontrar flexibilidade, escuta, acolhimento, compreensão e, principalmente, a possibilidade de ir ao próprio encontro, de saber quem ela é. O foco não é na deficiência, é na pessoa. Potencializar a diferença. Tem gente que enxerga e não tem visão. E tem cego que tem visão. Tem uma pessoa de cadeira de rodas que roda o mundo inteiro. Tem pessoas com mobilidade, que correm, fazem ginástica, mas não saem do lugar. Isso não é filosofia, é fato comprovado. Você vê cada vez mais o corpo sendo descuidado. Tratam do corpo mas não cuidam da própria alma. Essa questão do “coitado” irrita muito. A questão do “super-homem” também irrita muito. Mas o que mais incomoda é você ver uma pessoa completamente perdida, sem direção. Podendo andar, mas que não sabe para onde ir.

Fonte: http://rjtv.globo.com/Jornalismo/RJTV

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