Após seu derrame, Francine V. Corso, uma engenheira de software que trabalhou no módulo lunar da NASA, ficou confinada em sua casa de 1992 a 2001. Seu braço esquerdo estava torcido para cima, próximo de seu pescoço, tornando difícil colocar uma blusa, e seus dedos se enroscaram tão rigidamente que suas unhas se enterraram na palma da mão. Quando ela finalmente aprendeu a se levantar de sua cadeira de rodas, sua contorcida perna esquerda tinha o chamado "galope" de muitas vítimas de danos cerebrais – ela pisava com os dedos para baixo, lutando para evitar que seu pé girasse. Agora, com injeções de toxina botulínica a cada três meses, diz ela, "estou completamente transformada – eu dirijo, faço trabalho voluntário, frequento aulas de arte". Seus dedos estão tão relaxados que uma manicure já consegue pintar suas unhas de vermelho. A toxina botulínica, suavizador de rugas mais conhecido pela marca Botox, tem muitos usos médicos, alguns oficiais e outros sem aprovação. Ele ajuda vítimas de distonia a recuperar o controle de músculos espasmódicos, atores que lutam contra transpiração excessiva a reduzir o fluxo, e crianças com pés tortos a evitar cirurgia.
Uso sem aprovação
Seu uso em vítimas de derrames ainda não é atestado – ou seja, ele não é aprovado para esse propósito pela Food and Drug Administration, agência americana que regulamenta novos remédios e alimentos no mercado. Porém, ele é tão amplamente aceito que a Medicare e outras seguradoras chegam a reembolsar seu uso. Entretanto, segundo David M. Simpson, professor de neurologia do Centro Médico Monte Sinai em Nova York e um reconhecido pesquisador da toxina, apenas cerca de 5% dos pacientes de derrame que poderiam se beneficiar do Botox conseguem. Clínicos gerais que inspecionam casas de repouso nem sempre sabem sobre a toxina, disse ele. Relativamente poucos médicos são treinados para aplicar as injeções, que vão muito mais fundo do que fazem os dermatologistas para apagar linhas de expressão. E a maioria dos neurologistas tem o hábito de prescrever medicamentos anti-espasmódicos como tizanidine e baclofen, que são orais e baratos, mas que causam entorpecimento e enfraquecem todos os músculos do corpo, e não apenas os que estão em foco. Corso, de 66 anos, nunca ouviu falar sobre o tratamento por parte de seu primeiro neurologista, a quem costumava chamar de "Dr. Más Notícias", pois ele disse a sua família que ela poderia morrer e que talvez nunca andaria de novo. "Fiquei sabendo pelo Dr. Max Gomez, na NBC", disse ela. "Foi então que eu vim à cidade e encontrei vocês." Numa sala de aula do Monte Sinai, com uma ampla vista de Manhattan, Simpson está ao lado de dois braços desmembrados montados em juntas de cadeira. Um parece pastoso, mas muscular, e está coberto de picadas de seringas. Seu parceiro é vermelho-vivo e não tem nada além de músculos; trata-se de um modelo anatômico com toda a pele e gordura removida.
Difícil achar os músculos
Simpson, que recebe financiamento de três produtores de toxina botulínica – Allergan, que fabrica o Botox; Solstice Neurosciences, que produz o Myobloc; e Merz Pharmaceuticals, que produz o Xeomin –, está ensinando residentes como encontrar os músculos de mais difícil acesso, como o flexor pollicus brevis, que dobra o polegar, e o pronator quadratus, que gira o pulso. Os braços de borracha possuem sensores que emitem um "bip" quando a ponta de sua agulha atinge o músculo correto. Braços humanos não fazem "bip", é claro, mas Simpson havia usado uma variante dessa tecnologia em Corso apenas uma hora antes. Logo antes de a primeira agulha se afundar, ela fez com que os visitantes soubessem o que ela achava da eletromiografia, que ela chama de "a picada". "Isso", anunciou Corso, que tem praticamente um metro e meio de altura, "é o que separa homens de meninos." A seringa estava ligada a um estimulador eletrônico que pulsava uma carga – de até um décimo de – duas vezes por segundo. Quando Simpson acreditasse que havia atingido o músculo em questão, ele ligava o aparelho. Se o dedo correto começasse a pulsar em sincronia, ele sabia que estava certo, e pressionava a seringa. Caso contrário, ele movia a agulha e tentava de novo. Ele fez isso diversas vezes no braço de Corso, e então em sua perna. Dentro de 45 minutos, Corso disse que seu pé estava chegando ao chão mais igualmente. A toxina não consegue restaurar o uso de músculos quando o derrame destruiu a região cerebral que os controla. Porém, pacientes parecem e se sentem melhor, e muitas vezes acham mais fácil vestir roupas, segurar objetos e tomar banho. Mark Hallett, chefe da seção de controle motor do Instituto Nacional de Doenças Neurológicas e Derrames, diz usar eletromiografia e ultra-som ao injetar pacientes. "Um grande número de autoridades acha que se chegar perto, já está bom o suficiente," disse Hallett. "Eu não concordo. Acho que é importante se assegurar de que você está no lugar correto." Corso também pensa assim. Por algum tempo, ela estava freqüentou outro neurologista, mais próximo de sua casa, em Fort Salonga, Long Island, que injetou o botox, mas não utilizou eletromiografia, ela conta. Não funcionou tão bem. Agora, ela vai de carona com um amigo até a fronteira da cidade de Nova York, e então pega um serviço de carros até o hospital. "É bem longe de Long Island", disse ela. "Mas vale a pena."
Fonte: G1
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