domingo, 29 de março de 2009

Férias com crianças deficientes

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As melhores condições de turismo para o deficiente estão no exterior, mas há muito o que fazer por aqui

Lazer é direito constitucional.
O turismo é uma das melhores formas de diversão também para a criança com deficiência, embora ela não possa contar com um serviço especializado no Brasil. "O país ainda está engatinhando nesse setor. O que temos são alguns profissionais com boa vontade, que tentam buscar os melhores locais para o cliente especial. É preciso que tenham quartos adaptados, portas largas, locais com rampas, calçamentos lisos, elevadores e outros serviços", diz Roberto Belleza, consultor na área de viagens e turismo adaptado, que é tetraplégico há sete anos. "As melhores condições de acesso, transporte e atendimento estão nos Estados Unidos e nas principais capitais européias, mas os resorts nordestinos já caminham nessa direção, com construções mais acessíveis", diz o consultor. Se a família pode pagar, Belleza lembra que os cruzeiros marítimos, feitos por modernos transatlânticos, são ótima opção para os portadores de deficiência motora e sensorial. "Esses navios oferecem todas as condições. Os pais só precisam elencar as dificuldades do dia-a-dia com a criança para checar as facilidades que podem encontrar na viagem. E não devem pagar mais por esse serviço. Lazer é direito de todos", alerta Belleza.
Programa dos sonhos
Letícia Paula Silveira já foi guia turística, profissão que facilitou o lazer para a filha Pricila, 11 anos, que tem síndrome de Down. "Nós já fomos à Disney seis vezes. É sem dúvida o programa dos sonhos de qualquer criança, mas é um lugar especial pelo cuidado que têm com o deficiente. A diversão é garantida." A menina também conhece o Hopi Hari, no interior de São Paulo, e o Beto Carrero World, em Santa Catarina. "As viagens aumentaram muito a auto-estima de Pricila. Ela se sente participante do mundo como qualquer outra pessoa. Até quis aprender inglês", conta Letícia.
Ana Elizabeth Noll viaja freqüentemente com o filho Denis, portador de paralisia cerebral, desde os 3 anos. "Já fizemos muitos passeios pelo Nordeste brasileiro e também no exterior", conta. Por causa dessas experiências — o garoto está com 18 anos –, ela virou especialista nas falhas e eficiências do turismo para a criança especial. Em 2001, foi chamada para participar da atualização do Manual de Recepção e Acessibilidade da Embratur, destinado à indústria turística. Seu conselho aos pais de deficientes: "Não esperem por um turismo adaptado. Viajar com a criança especial provoca as mudanças".
Roteiro simples
Quando as finanças da família não permitem ir longe, pequenos passeios podem alegrar a criança do mesmo jeito. Tábata, 7 anos, não enxerga, mas anda a cavalo em chácaras, nada na piscina de clubes e visita animais no zoológico. "Com 1 ano e meio, quando ela começou a andar, é que me dei conta do lazer. Não sabia onde poderia levá-la. Descobrimos aos poucos", conta a mãe, Neide Rodrigues. Nestas férias, a família pretende percorrer de carro o litoral carioca. O próximo projeto é deixar Tábata ir a um acampamento. "A convivência com pessoas desconhecidas será um estímulo para sua independência. Ela poderá se sentir querida pelos outros", acredita Neide.
Turismo adaptado
Além dos Estados Unidos, o país mais preparado em turismo para crianças especiais, Holanda, Inglaterra, França, Alemanha, Suíça e Austrália destacam-se nas facilidades, segundo avaliação de Janaki Nayar, representante da Society for Acessible Travel & Hospitality (SATH), uma organização não-governamental com sede em Nova York, que trabalha para promover a melhoria das condições de acesso e atendimento para pessoas com deficiência e idosos no turismo mundial. Segundo ela, na América do Sul, os parques nacionais da Patagônia, no Chile, e Machu Pichu, no Peru, são bastante acessíveis. "Nesse lugares, há pessoas treinadas para receber os portadores de deficiência. Buscamos agora patrocínio para avaliar o Brasil", diz. A SATH publica a revista trimestral Open World (Mundo Aberto em inglês), que dá dicas de roteiros adaptados. "A publicação não mostra a beleza dos lugares, e sim a experiência da pessoa com deficiência, que orienta como chegar a tal destino", explica Janaki. Pais ficam de fora nas Colônia de férias, acampamentos, passeios ao boliche, cinema e teatro, são programas que algumas iniciativas isoladas oferecem à criança com deficiência, como a Colônia de Férias Tempo Feliz, da Apae, no Balneário Camboriú, em Santa Catarina. Ela está aberta a qualquer criança. Detalhe: nessa programação os pais estão de fora. "Gostei muito de ir para colônia de férias. Fiz muitos amigos e me senti independente", conta Francine Machado, 12 anos, deficiente física.
Instituto Brasileiro de Defesa dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência (IBDD).
No site www.ibdd.org.br acesse o link serviços para ver padrões de acesso Society for Accessible
Beto Carrero World, em Santa Catarina - www.betocarrero.com.br (11) 3081-9544 (SP) (47) 261-2354 (SC)
Betinho Carrero, em São Paulo, www.betinhocarrero.com.br - (11) 5506-7415
Hopi Hari - www.hopihari.com.br - (11) 3058-2207 (SP)

Revista Crescer

Um comentário:

  1. Excelente reportagem! Trabalho com a clientela especial e ouço muitas queixas das mães e familiares em relação ao lazer, principalmente fora do próprio município. Falta informação sobre as deficiências! Falta se colocar no lugar e ver como o mundo é deficiente! Conheço uma mãe que possui dois filhos com autismo, uma ótima condição financeira e sem opções de lazer. Se as próprias escolas, nesse novo processo de inclusão, estão perdidas e a maioria sequer sabe sobre a infinidade de deficiencias existentes e suas particularidades, o que dizer dos outros setores!
    Só a informação e a luta de pessoas como você poderão mudar esse atual quadro.
    Precisamos eleger mais políticos com deficiência!
    Abraços.

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