Mitologia é um tema fabuloso para se pensar a condição humana, a vida e o mundo. Há várias mitologias, mas a mais conhecida é a grega. Se você não está familiarizado com textos e imagens mitológicas, aqui vai uma dica: esqueça os fatos! O que importa em mitologia é o sentido e a mensagem. Há quem discuta e até afirme a veracidade de alguns temas mitológicos, especialmente aqueles que estão na base de certas religiões. Mas, reafirmo que a mensagem e o sentido são o que há de mais precioso nos mitos.
(...) Quero iniciar com Hefestos (ou Hefesto, ou ainda Hephaistus), uma das divindades gregas do Olimpo. Para os romanos, Hefestos é Vulcano, Tanto para os gregos, quanto para os romanos, Hefestos é o deus do fogo, das erupções vulcânicas, da metalurgia, o ferreiro divino e outras designações semelhantes. O que se destaca em Hefestos é sua habilidade artística refinada. Era um artesão a quem os deuses gregos recorriam quando precisavam de ferramentas, artefatos, armas ou qualquer invento espetacular.
(...)Hefestos, o deus grego do fogo, o artesão do Olimpo tinha uma história parecida com a minha e a sua. Hefestos tinha uma diferença funcional. A literatura usa aqueles termos horríveis que evitamos aqui: ele era “coxo”, ele era “manco”.
Há mais Hefestos à nossa volta do que você imagina. Recomendo aos não-cadeirantes que leiam sentados para não caírem surpresos com alguns detalhes muito comuns a todos nós: Vamos lá:
Hefestos é filho partenogênico de Hera, esposa de Zeus. Mas, ela o gerou sozinha. Seu objetivo era vingar-se de Zeus, seu incorrigível marido infiel. Hera queria humilhar Zeus, exibindo um filho nascido sem a sua participação. Hefestos foi gerado para ser objeto de vingança. Porém, o tiro de Hera saiu pela culatra. Seu filho nasceu deformado, feio e com “defeito” nas pernas. Ela não teve nenhum orgulho do seu filho, já que ele não serviria para a sua vingança. Hera, então, rejeitou Hefestos. E não apenas o rejeitou, mas lançou-o do alto do Olimpo, agravando ainda mais sua condição física.
(...)Homero, aliás, também tinha uma diferença funcional. Ele era cego.
Voltando a Hefestos... Hera, a mãe, gerou Hefestos para humilhar Zeus. Hera rejeitou o filho e, literalmente, do alto do Olimpo atirou-o ao mar. Mais tarde, a tragédia familiar continua, pois Hefestos vinga-se de sua mãe e, com isso, consegue voltar ao Olimpo. Perceba, leitor(a), os sentimentos envolvidos nessa trama... e no centro desses sentimentos, uma diferença funcional.
A vingança: Um dia, chega ao Olimpo um presente misterioso. Um belo e magnífico trono de ouro que encantou a todos. A obra de arte não tinha destinatário, nem assinatura. Hera, a esposa do todo-poderoso do Olimpo, não resistiu e sentou-se no trono. Hefestos construiu um trono capaz de prender sua mãe. Hera ficou mesmo presa ao trono e não houve quem pudesse salvá-la. A solução só poderia vir das mãos do próprio artesão que, em princípio, negou qualquer ajuda. Ares (Marte) usou a força bruta para convencê-lo, mas fracassou. Dionísio (Baco), deus do vinho, amigo “de copo” de Hefestos, embebedou-o e conduziu-o ao Olimpo.
Ainda assim, Hefestos não se deu por vencido. Negociou sua ajuda exigindo duas coisas: seu retorno ao Olimpo e uma esposa; ninguém menos que Afrodite, a deusa do amor e da beleza. Zeus permitiu o casamento, mas sua intenção era vingar-se de Afrodite que recusara amá-lo. Afrodite não podia desobedecer ao deus dos deuses, mas nunca foi fiel a Hefestos. Esse casamento acaba e, mais tarde, Hefestos casa-se com Cárites.
O mito de Hefestos me parece muito familiar. Conheço algumas histórias de rejeição e desamor cujo elemento central é a diferença funcional da criança. Hera queria exibir seu filho com orgulho; mas uma criança deformada não alegra a mãe. Felizmente, há exceções. Poucas. Mas há, sim, mães que fingem amar seus Hefestos. E há mães que jogam fora seus filhos. E há pais que partem, somem, desaparecem do mapa com a chegada de um Hefestos. E há Hefestos que são jogados fora, mesmo sendo acolhidos, alimentados e educados no sagrado seio do lar. Esta última forma de rejeição é a mais vil e a que me parece mais comum.
Nenhuma mãe planeja ter um filho diferente. Muitas vezes, a criança só nasce para os pais naquele exato momento quando, após o parto, o médico informa que “nasceu perfeito”... Hefestos, ao contrário, não nasceu com essa perfeição desejada pelas mães. Ele foi criado por Tétis, uma ninfa que o resgatou e cuidou dele com carinho. Tétis mostra-nos que não é a ação do útero que faz uma mãe. Adotar uma criança é um gesto nobre. Mas, adotar um Hefestos requer, além da nobreza, uma rara e elevada generosidade afetiva, materna, humana...
Há muito o que refletir sobre Hefestos. Sobre suas habilidades e inovações trabalhando na forja.
(...) Quero iniciar com Hefestos (ou Hefesto, ou ainda Hephaistus), uma das divindades gregas do Olimpo. Para os romanos, Hefestos é Vulcano, Tanto para os gregos, quanto para os romanos, Hefestos é o deus do fogo, das erupções vulcânicas, da metalurgia, o ferreiro divino e outras designações semelhantes. O que se destaca em Hefestos é sua habilidade artística refinada. Era um artesão a quem os deuses gregos recorriam quando precisavam de ferramentas, artefatos, armas ou qualquer invento espetacular.
(...)Hefestos, o deus grego do fogo, o artesão do Olimpo tinha uma história parecida com a minha e a sua. Hefestos tinha uma diferença funcional. A literatura usa aqueles termos horríveis que evitamos aqui: ele era “coxo”, ele era “manco”.
Há mais Hefestos à nossa volta do que você imagina. Recomendo aos não-cadeirantes que leiam sentados para não caírem surpresos com alguns detalhes muito comuns a todos nós: Vamos lá:
Hefestos é filho partenogênico de Hera, esposa de Zeus. Mas, ela o gerou sozinha. Seu objetivo era vingar-se de Zeus, seu incorrigível marido infiel. Hera queria humilhar Zeus, exibindo um filho nascido sem a sua participação. Hefestos foi gerado para ser objeto de vingança. Porém, o tiro de Hera saiu pela culatra. Seu filho nasceu deformado, feio e com “defeito” nas pernas. Ela não teve nenhum orgulho do seu filho, já que ele não serviria para a sua vingança. Hera, então, rejeitou Hefestos. E não apenas o rejeitou, mas lançou-o do alto do Olimpo, agravando ainda mais sua condição física.
(...)Homero, aliás, também tinha uma diferença funcional. Ele era cego.
Voltando a Hefestos... Hera, a mãe, gerou Hefestos para humilhar Zeus. Hera rejeitou o filho e, literalmente, do alto do Olimpo atirou-o ao mar. Mais tarde, a tragédia familiar continua, pois Hefestos vinga-se de sua mãe e, com isso, consegue voltar ao Olimpo. Perceba, leitor(a), os sentimentos envolvidos nessa trama... e no centro desses sentimentos, uma diferença funcional.
A vingança: Um dia, chega ao Olimpo um presente misterioso. Um belo e magnífico trono de ouro que encantou a todos. A obra de arte não tinha destinatário, nem assinatura. Hera, a esposa do todo-poderoso do Olimpo, não resistiu e sentou-se no trono. Hefestos construiu um trono capaz de prender sua mãe. Hera ficou mesmo presa ao trono e não houve quem pudesse salvá-la. A solução só poderia vir das mãos do próprio artesão que, em princípio, negou qualquer ajuda. Ares (Marte) usou a força bruta para convencê-lo, mas fracassou. Dionísio (Baco), deus do vinho, amigo “de copo” de Hefestos, embebedou-o e conduziu-o ao Olimpo.
Ainda assim, Hefestos não se deu por vencido. Negociou sua ajuda exigindo duas coisas: seu retorno ao Olimpo e uma esposa; ninguém menos que Afrodite, a deusa do amor e da beleza. Zeus permitiu o casamento, mas sua intenção era vingar-se de Afrodite que recusara amá-lo. Afrodite não podia desobedecer ao deus dos deuses, mas nunca foi fiel a Hefestos. Esse casamento acaba e, mais tarde, Hefestos casa-se com Cárites.
O mito de Hefestos me parece muito familiar. Conheço algumas histórias de rejeição e desamor cujo elemento central é a diferença funcional da criança. Hera queria exibir seu filho com orgulho; mas uma criança deformada não alegra a mãe. Felizmente, há exceções. Poucas. Mas há, sim, mães que fingem amar seus Hefestos. E há mães que jogam fora seus filhos. E há pais que partem, somem, desaparecem do mapa com a chegada de um Hefestos. E há Hefestos que são jogados fora, mesmo sendo acolhidos, alimentados e educados no sagrado seio do lar. Esta última forma de rejeição é a mais vil e a que me parece mais comum.
Nenhuma mãe planeja ter um filho diferente. Muitas vezes, a criança só nasce para os pais naquele exato momento quando, após o parto, o médico informa que “nasceu perfeito”... Hefestos, ao contrário, não nasceu com essa perfeição desejada pelas mães. Ele foi criado por Tétis, uma ninfa que o resgatou e cuidou dele com carinho. Tétis mostra-nos que não é a ação do útero que faz uma mãe. Adotar uma criança é um gesto nobre. Mas, adotar um Hefestos requer, além da nobreza, uma rara e elevada generosidade afetiva, materna, humana...
Há muito o que refletir sobre Hefestos. Sobre suas habilidades e inovações trabalhando na forja.
Ray Ferreira
Gosto muito de mitologia, por isso gostei do post! Parabéns.
ResponderExcluirOi Lucas, eu tb gosto, faz parte da minha origem....obrigada!
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