quarta-feira, 15 de abril de 2009

Repensar as células-tronco? A ciência já fez isso

Comente!
Presidente Barack Obama liberou uso de verbas federais para estudos.Decisão, revogando veto de Bush, deve acelerar as pesquisas.

Com oratória elevada, na segunda-feira o presidente Barack Obama removeu uma inquietação prática substancial que há tempos dificultava a vida dos pesquisadores de células-tronco. Ele aprovou que os pesquisadores biomédicos, usando dinheiro federal (a grande maioria), trabalhem em um número maior de linhas de células-tronco embrionárias humanas do que era estabelecido antes de 9 de agosto de 2001. Em termos práticos, pesquisadores financiados pelo governo agora terão maior facilidade em fazer uma categoria particular de experimentos com células-tronco que, embora ainda sejam importantes, foram de alguma forma ofuscada por novos avanços. Até agora, para estudar linhas de células-tronco não aprovadas, pesquisadores tinham de montar laboratórios separados, com financiamento privado, e seguir trabalhosos procedimentos de contabilidade para se assegurar de que nem um centavo do dinheiro federal fosse usado naquela pesquisa. Isso acabou. A retirada desses requisitos "é uma grande bênção para a pesquisa daqui e de todos os lugares", disse Dr. Arnold Kriegstein, pesquisador de células-tronco da Universidade da Califórnia, em São Francisco. Dr. George Q. Daley, estudioso de doenças sanguíneas no Hospital Infantil de Boston, disse ter derivado 15 linhas de células-tronco embrionárias humanas usando dinheiro privado, e que pela primeira vez ele agora poderia se inscrever para concessões do Instituto Nacional de Saúde dos EUA para estudar essas células. Nos últimos oito anos, seu laboratório, que recebia 90% de financiamento do Instituto Nacional de Saúde (INS), passou para metade de investimento privado e metade do INS. Porém, o dinheiro privado agora está escasseando, disse ele, e um novo apoio do INS seria especialmente bem-vindo. Entretanto, o apoio presidencial à pesquisa de células-tronco embrionárias chega num momento em que muitos avanços já foram feitos com outros tipos de células-tronco. O biólogo japonês Shinya Yamanaka descobriu, em 2007, que células adultas podiam ser reprogramadas a um estado embrionário com surpreendente facilidade. Essa tecnologia "pode eventualmente ofuscar as linhas de células-tronco embrionárias para aplicações terapêuticas e diagnósticas", disse Kriegstein. Para os pesquisadores, reprogramar uma célula adulta pode ser muito mais conveniente, e nunca houve quaisquer restrições sobre trabalhar com células-tronco adultas. Para o uso terapêutico, mesmo estando distante, tratar pacientes com suas próprias células evitaria o problema da rejeição imunológica. Membros do Congresso e defensores da luta contra as doenças já falam há muito tempo sobre a pesquisa de células-tronco embrionárias humanas como se esse fosse um caminho certo para curas rápidas de problemas intratáveis. Cientistas não se opuseram publicamente a essas grandiosas esperanças, o que pode ter ajudado a estimular novas fontes de concessões – como a iniciativa de 10 bilhões de dólares para pesquisa de células-tronco na Califórnia. Em particular, entretanto, muitos pesquisadores projetaram objetivos muito mais modestos para as células-tronco embrionárias. Seu principal interesse é derivar linhas de células-tronco de pacientes com doenças específicas e, rastreando as células no tubo de ensaio, obter conhecimentos básicos sobre como a doença se desenvolve. Mesmo com um teste de segurança – aprovado pelo FDA, o órgão regulamentador de remédios e alimentos nos EUA – com células-tronco embrionárias em ferimentos na medula espinhal, iniciado pela Geron Corporation em janeiro, muitos cientistas acreditam que a inserção de tecidos derivados de células-tronco em pacientes ainda está muito distante. As células-tronco embrionárias têm suas desvantagens. Elas causam tumores, e as células adultas derivadas delas podem ser rejeitadas pelo sistema imunológico do paciente. Além disso, qualquer doença que cause a morte de células no tecido do paciente provavelmente também matará as células introduzidas. Todos esses problemas podem ser solucionáveis, mas até agora nenhum deles foi resolvido. As restrições sobre a pesquisa de células-tronco embrionárias tiveram origem no Congresso, que, a cada ano desde 1996, proibiu o uso de financiamentos federais para qualquer experimento em que um embrião humano seja destruído. Isso inclui a derivação de linhas de células-tronco humanas de embriões excedentes de clínicas de fertilidade – algo alcançado em 1998 pelo Dr. James Thomson, da Universidade do Wisconsin. O presidente Clinton contemplou, mas nunca implementou, uma política que permitisse aos pesquisadores financiados pelo INS estudar células-tronco embrionárias humanas derivados por outros. A pesquisa só conseguiu começar em agosto de 2001, quando o presidente Bush, buscando um caminho diferente em relação à restrição congressional, disse que os pesquisadores poderiam usar quaisquer linhas estabelecidas antes daquela data. Os críticos disseram que a distinção entre as políticas de Clinton e Bush não tinham significância moral, já que as duas tentaram contornar a proibição do congresso, baseada num argumento religioso e moral. A política proposta por Clinton equivalia a: "Roubar é errado, mas não há problema em usar propriedade roubada se outra pessoa a roubou". A política de Bush era: "Roubar é errado, mas não há problema em usar propriedade roubada se o roubo aconteceu antes de 9 de agosto de 2001." Obama colocou a proposta de Clinton em efeito, mas as restrições do congresso permanecem. Os pesquisadores ainda estão proibidos de utilizar financiamentos federais para derivar novas linhas de células-tronco embrionárias humanas. Entretanto, eles serão permitidos a realizar pesquisas com novas linhas de células-tronco cultivadas num laboratório financiado privadamente. A pesquisa de células-tronco é o mais conhecido entre os diversos caminhos de investigação dentro do que é conhecido como medicina regenerativa. Regenerar o corpo envelhecido com seus próprios sistemas de reparo, dos quais as células-tronco são um dos componentes, seria muito mais eficaz do que os brutais métodos da atualidade, que envolvem medicamentos e cirurgia. No entanto, os cientistas ainda estão no início do entendimento sobre como os 200 tipos de células do corpo interagem entre si. Provavelmente se passarão anos até que os biólogos conheçam todas as configurações que precisam ser ajustadas nos cromossomos de uma célula humana para fazê-la se tornar uma bem-comportada célula cone na retina, ou um neurônio produtor de dopamina como os que são destruídos com o mal de Parkinson. Apesar do novo interesse em células-tronco reprogramadas, as células-tronco embrionárias humanas ainda valem o estudo, tanto para rastrear os momentos iniciais de uma doença, como para ajudar na avaliação de comportamento das células reprogramadas.

Fonte: G1

0 comentários:

Postar um comentário