terça-feira, 20 de outubro de 2009

Maioria dos museus ainda não é acessível para cegos

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A especialista em acessibilidade de museus e centros culturais Viviane Panelli Sarraf, que também é consultora do Centro de Memória Dorina Nowill diz que a maioria dos museus ainda não é acessível para cegos

Licenciada em Educação Artística pela Fundação Armando Álvares Penteado, com especialização em Museologia e Mestrado em Ciência da Informação pela Universidade de São Paulo e doutoranda em Comunicação e Semiótica na PUC-SP, Viviane Panelli Sarraf é diretora-fundadora da empresa social Museus Acessíveis e consultora na área de acessibilidade para projetos culturais desde 1998. Tem estágios e pesquisas realizados em instituições estrangeiras, é responsável pelo Centro de Memória Dorina Nowill da Fundação Dorina Nowill para Cegos e também criadora do site RINAM - Rede de Informação de Acessibilidade em Museus.
Nesta entrevista, Viviane fala acerca da acessibilidade em museus brasileiros, cita aqueles que já estão em processos avançados de adequação para receber visitantes com deficiência e que podem ser considerados bons exemplos, mas também diz que ainda faltam iniciativas que promovam, de fato, a participação total desse público, principalmente de quem tem deficiência visual. Por fim, ela também comenta sobre o curso que será realizado nos dias 9 e 10 de novembro, na Fundação Dorina Nowill para Cegos, o qual será coordenado por ela.

Como as pessoas com deficiência visual costumam ser recebidas em museus?
Viviane - Apesar da maior conscientização dos museus e espaços culturais em relação às necessidades das pessoas com deficiência visual, é possível dizer que a presença desse público ainda é estranha em ambientes dessa natureza. Geralmente as pessoas que recebem de fato - seguranças, recepcionistas, orientadores de público - ainda se sentem inseguras ao lidar com esse público. Essa insegurança pode ser atribuída à falta de informação e treinamento. Nas exposições, podemos dizer que os educadores já têm informação e, alguns deles, formação para oferecer visitas acessíveis, mas o toque em obras, réplicas e objetos preservados ainda é um problema, devido à carência de pesquisas na área de conservação que problematizam os danos do contato humano com a diversidade de materiais que configuram o patrimônio cultural. Quanto à comunicação não apenas visual, mas que use os cinco sentidos ainda são raras as iniciativas. E sabemos que as pessoas com deficiência visual desenvolvem os demais sentidos por conta da perda da visão, o que poderia ser explorado pelos ambientes culturais como novas possibilidades de mediação.

A maioria dos museus é acessível para este público?
Viviane - Definitivamente não. Temos muito mais museus em processo de se tornarem acessíveis do que há 10 anos, mas se pensarmos que o Brasil tem mais de 2 mil museus e que pouco mais que 20 deles estão promovendo acessibilidade gradualmente, ainda é uma minoria. Em alguns países da Europa, como na Inglaterra, existem legislação e mobilização da sociedade civil por isso, é muito difícil ver um museu não acessível (considerando: acesso físico, informacional, atitudinal, etc...), e nesses países a acessibilidade é considerada sinônimo de qualidade, pois os beneficiados não são apenas as pessoas com deficiência. As famílias com crianças pequenas, idosos, turistas, pessoas com mobilidade reduzida temporária ou permanente, enfim a sociedade reconhece essa mudança para melhor.

Você poderia citar alguns museus, tanto em São Paulo como em outras cidades, que se tornaram acessíveis para o visitante com deficiência visual?
Viviane - O Museu de Zoologia da USP é um dos que vem realizando um trabalho de inclusão de pessoas com deficiência visual e a cada dia aprimora os recursos acessíveis - eles já têm maquetes do museu e da exposição, réplicas de animais e animais taxidermizados (empalhados) para serem tocados e folder em Braille. Agora, estão trabalhando a acessibilidade nas galerias e em um audioguia para promover autonomia do visitante; o MAM-SP além de ser completamente acessível, tem o Jardim de Esculturas com percurso acessível e oferece cursos inclusivos como o de fotografia "Imagem e Percepção" onde mais da metade dos alunos tem deficiência visual; o Museu da Casa Brasileira também vem investindo na formação de toda a equipe para oferecer um atendimento de qualidade além de já oferecer uma visita tátil na exposição permanente e materiais de apoio; o Museu Paulista da USP (Museu do Ipiranga) também está investindo em materiais de apoio, formação e comunicação acessível e a Pinacoteca do Estado de São Paulo que, além de visitas especiais com materiais de apoio sensoriais, inaugurou esse ano a Galeria Tátil de Esculturas, onde 12 esculturas do acervo podem ser tocadas com o acompanhamento de um audioguia. Em Barueri, existe o Museu da Bíblia que foi planejado para ser acessível, eles oferecem visitas especiais, objetos que podem ser tocados e recursos sensoriais/interativos. Em Brodósqui (interior de SP) tem o Museu Casa de Portinari, que também oferece recursos de acessibilidade, como materiais sensoriais e visitas especiais.

Alguns desses museus podem ser comparados com de outros países, em questão de acessibilidade?
Viviane - O MAM-SP tem uma excelente acessibilidade física e programas educativos inclusivos, o Museu da Bíblia de Barueri é referência em acessibilidade física e recursos acessíveis na exposição permanente, a Pinacoteca do Estado de São Paulo oferece visitas especiais completas e a Galeria Tátil de Esculturas, o Museu da Casa Brasileira tem o acervo acessível ao toque e uma visita educativa inclusiva de excelentes qualidade e os Museus Paulista e de Zoologia da USP estão aprimorando suas ofertas acessíveis. Todos esses já podem ser comparados á museus europeus em termos de acessibilidade.

Quem está organizando o curso Acessibilidade para Deficientes Visuais em Espaços de Educação Cultural e Patrimonial?
Viviane - A realização é da Fundação Dorina Nowill para Cegos e envolve pessoas de várias equipes da instituição: Centro de Memória, Atendimento Especializado e Imprensa Braille. Já a concepção do curso é de minha autoria, minha empresa social Museus Acessíveis presta serviços de acessibilidade cultural e gestão do Centro de Memória para a Fundação.

Qual a importância desse curso?
Viviane - É a oferta de um conteúdo que proporciona a formação de agentes culturais aptos a atender pessoas com deficiência visual e desenvolver projetos culturais que incluam esse público.
Essa é a primeira vez que um curso com esse propósito será realizado em São Paulo?
Viviane - Esse curso mais focado na formação dos agentes culturais sim, mas o Centro de Memória da Fundação Dorina Nowill para Cegos está desde 2006 oferecendo workshops e cursos na área de acessibilidade em museus, com caráter mais informativo. Esse curso vem atender à demanda presente nas avaliações dos cursos anteriores. Em novembro do ano passado também oferecemos, em parceria com o MAM-SP, o Encontro Regional de Acessibilidade em Museus, o primeiro evento científico/acadêmico que se propôs a debater o tema além de dar espaço para o público alvo, pessoas com deficiência expressassem suas opiniões em relação aos espaços culturais. A Museus Acessíveis também vem oferecendo cursos diferenciados em SP e em outros estados sobre acessibilidade e inclusão cultural. Um deles é o Arte, cultura, design e deficiência visual que será dado nos dias 24 e 25 de outubro no ECCO - Espaço Cultural Contemporâneo de Brasília.

Foto: Viviane durante Encontro Regional de Acessibilidade em Museus - MAM -no ano passado
Fonte: Sentidos

DEFICIENTE ALERTA foi criado para orientar,educar,protestar e ajudar todos com deficiência. www.deficientealerta.blogspot.com

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