segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Não é sonho!

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De fato quando falamos em inclusão de pessoas com deficiência, muitos ainda relacionam o assunto a pena, migalhas e caridade.
Talvez seja um ranço próprio da educação, que ensinava os filhos quando muito a enxergar pessoas com deficiência como sujeitos para compaixão, por parte daqueles que eram “perfeitos e normais” aos olhos da sociedade.
Foram centenas de anos de isolamento, exclusão e invisibilidade e este quadro não mudará facilmente, pois em 2008, a despeito das leis que favorecem a inclusão, ainda continua o quadro de invisibilidade social. Cada criança que nasce e cada pessoa que se torna deficiente marca o início de uma nova luta pelo reconhecimento, pela aceitação e pela dignidade humana.
Os meios de comunicação não favorecem, pois as induções e linguagens inapropriadas fazem com que a segregação siga o seu curso e contribua para a continuidade do preconceito e por consequência da discriminação.
As pessoas com deficiência e suas famílias precisam assumir o papel de protagonistas de suas próprias histórias e escolher em que modelo social pretendem viver e fazer com que se torne realidade.
Pois de nada adianta leis que não são reconhecidas de fato pelos principais interessados.
Nossas leis falam em reconhecimento, autonomia, direitos iguais, modelo social, inserção laboral, direitos e deveres, acessibilidade, inclusão, educação inclusiva e criminalizam a discriminação.
A Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência que está prestes a ser ratificada chega para reforçar e definir a escolha pelo caminho da inclusão e da dignidade humana.
De fato existe uma militância ativa, que busca os direitos, mas a pergunta é se os demais interessados estão acompanhando e vivenciando estas mudanças e, mais ainda, se reconhecem a si mesmos como sujeitos desta história de lutas pelos direitos humanos das pessoas com deficiência.
A despeito de todas as leis que existem e virão a existir pessoas com deficiência só deixarão de ser invisíveis se forem vistas como protagonistas e não como coadjuvantes na medida em que se sentirem cidadãos e merecedores da cidadania e à medida que se reconhecerem no outro, seja ele com ou sem deficiência. O reconhecimento do que se é, livre de barreiras pessoais, livre do autopreconceito e da não aceitação dos que os cercam produz o sujeito pleno de direitos.
Para que adiantam as leis se não nos julgamos merecedores delas? Para que leis que garantem a inclusão se não são usadas pela constatação de que os filhos darão “mais trabalho” e é “mais difícil” para o professor ensinar a criança ou o adolescente com deficiência intelectual, o seu filho.
E como se estudar em classe regular já não fosse um direito adquirido, e mais ainda, um direito inalienável. Para que a lei de Libras se não exigimos que saia do papel.
Para que todas as outras leis, pois se pensarmos que pessoas com deficiência somam quase 25.000.000 poderíamos estar promovendo a revolução inclusiva, que por sinal seria legal. Seria talvez uma revolução social legalista, para mudança da própria sociedade com base na legalidade. Que não seja por falta de leis.
O questionamento começa em como agiriam as pessoas que têm deficiência ou têm filhos com deficiência se não os tivessem. Teriam preconceitos? Será que muitos mesmo que não saibam ainda têm? Será que reconhecemos de fato pessoas com deficiência como cidadãos plenos, como protagonistas? Como será que ocorre esta mudança que uma vez provocada pela própria vida não volta atrás e, muito embora seja rica, talvez não seja fácil se situar dentro dela, com as novas vivências e necessidades, e principalmente porque cada um é o que é, e seres humanos são complexos, nós somos todos assim. Um mar de questionamentos e dúvidas.
Talvez seja por isto que no caso das pessoas com deficiência as políticas públicas de inclusão caminham muito à frente. Ainda não entendemos que política no papel não é política executada e que o papel da sociedade é cobrar com todos os meios possíveis, seja através de mobilizações ou ações jurícidas o seu cumprimento.
Por outro lado, acredito que não seja um ranço apenas nosso, mas da sociedade em que vivemos, que se pensarmos bem são poucos os segmentos que reivindicam seus direitos e apenas aqueles que o fazem têm êxito.
A questão é se queremos inclusão e acessibilidade plena e se acreditamos de verdade que pessoas com deficiência são pessoas, que fazem parte da diversidade, que é composta por pessoas com e sem deficiência e com várias outras características, podem ser baixas, gordas, altas, usar óculos, loiras, morenas, de religiões variadas ou ateus e muitas outras características que só gente tem.
Bem, é para pensar no que queremos e em que acreditamos porque não existe quase inclusão, mas existem outras coisas como integração, modelo de saúde, assistencialismo, que muitas pessoas podem querem engatar na inexistente quase inclusão.
Mas se é a inclusão o que queremos então vamos lutar por ela, lutem para que se torne realidade. Pela primeira vez temos a faca e o queijo na mão, não é nada fácil, mas nunca foi tão possível. Não é um sonho, é realidade possível e acessível, basta querer, acreditar e ousar para si mesmo.

Claudia Grabois é presidente da Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down e diretora do Instituto Helena Antipoff .

Fonte: Agência Inclusive

DEFICIENTE ALERTA foi criado para orientar,educar,protestar e ajudar todos com deficiência. www.deficientealerta.blogspot.com

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