quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Os limites do corpo, sem preconceito

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CandoCo volta ao Brasil, desta vez sem cadeirantes no palco, mas mantendo ideia de estimular o lado radical dos movimentos
Helena Katz

Hoje e amanhã, às 21h, no Teatro Alfa, a CandoCo, companhia inglesa que reúne deficientes e não-deficientes físicos, apresenta um programa duplo. Seus sete bailarinos dançam The Perfect Human, de Hofesh Shechter, que trabalhou com Ohad Naharin na Batsheva Dance Company, e Still, de Nigel Charnock, ex-diretor da Helsinki Dance Company, que também desenvolve carreira de solista.
Quando começou, a CandoCo tinha um vínculo muito direto com a história de uma de suas fundadoras, Celeste Dandeker. Com 22 anos, em turnê com a companhia na qual trabalhava, a London Contemporary Dance Theater, sofreu um acidente dançando Stages, uma obra de Robert Cohan, quebrou o pescoço e tornou-se cadeirante. Passaram-se quase 16 anos até que, junto com Adam Benjamin, com quem já havia dado aulas, viesse a criar a CandoCo, em 1991.
Benjamin deixou a companhia em 1998, e Celeste aposentou-se em 2007. Candidataram-se ao seu cargo o brasileiro Pedro Machado, que chegou na CandoCo em 1998, e a norueguesa Stine Nielsen, em 2000. Eles haviam estudado juntos no Laban Center e dançado por anos na CandoCo. "Somos complementares. Eu provoco, e ela media e acha as respostas", conta ele, em entrevista ao Estado.
Pedro Machado, que está há 18 anos na Inglaterra, explica que o que o atraiu foi a oportunidade de trabalhar com coreógrafos diferentes e que, até então, não tinha ainda tido contato com dançarinos deficientes. "Estar nessa companhia foi uma oportunidade que me fez repensar tudo, especialmente a função do exercício, de modo que ele fosse trabalhado sempre e por qualquer tipo de corpo como estímulo em direção ao que há de radical na intenção do movimento, e nunca como adaptação às circunstâncias do corpo, seja qual for esse corpo."
Há algo que distancia a CandoCo dos projetos de dança inclusiva. "Queremos lembrar ao público o prazer público da dança, compartilhar aquela energia surgida de uma certa frequência de movimento. Não nos interessa falar "nós" e "eles". Sempre que me perguntam sobre os critérios para escolher os dançarinos deficientes respondo com outra pergunta: e por que não falar também sobre o critério para selecionar os outros, os não deficientes? Pois o que nos interessa é construir uma excelente companhia de dança. Trabalhamos com padrões muito físicos e complexos, que vêm se desenvolvendo ao longo do tempo."
Pela primeira vez, nos seus 18 anos de existência, não há nenhum cadeirante no elenco. E também pela primeira vez, o cartaz de 2009 não traz a imagem de nenhum deficiente. "Escolhemos a foto que melhor representa o nosso trabalho de agora", conta.
"Celeste era cadeirante e não era questionada sobre a política de inclusão que praticava, mas nós somos. Agora, por exemplo, nos criticam porque a deficiência não está muito visível. Mas não estamos interessados na condição médica e sim, artística. Temos alguém que teve paralisia cerebral e todos precisamos aprender a sua gama de movimentos para buscarmos juntos a excelência que esses movimentos poderiam atingir. O importante é perceber que quando se fala de alguém através da sua deficiência, reduz-se a pessoa a apenas um traço daquilo que ela, de fato, é, e aqui, todos são dançarinos incríveis. O difícil é encontrar pessoas talentosas, que conheçam seu corpo e saibam se mexer."
Quem duvidar da direção que a CandoCo está tomando, encontrará nos projetos futuros uma sinalização clara. Em 2010, estreiam coreografias de Emanuel Gatt, de Wendy Houston, do DV8, e de Sarah Mitchelson, curadora do The Kitchen, de Nova York. E em 2011 pretendem reconstruir uma peça originalmente criada para outra companhia. Vão escolher dentre as obras "que foram seminais para a dança e que devem ter seu valores culturais passados adiante". Ainda não está fechado, mas as conversações estão acontecendo com Trisha Brown. "Não queremos ficar em nenhum gueto, e sim, entrar em um campo mais ampliado."
Na sexta, a companhia CandoCo faz uma apresentação gratuita no próprio Teatro Alfa para ONGs que atendem a pessoas com deficiência. Para os deficientes visuais haverá audiodescrição, e para os deficientes auditivos, tradução para libras.

Serviço
CandoCo Dance Company. Teatro Alfa (1.110 lug.). Rua Bento Branco de Andrade Filho, 722, 5693-4000. Hoje e amanhã, às 21 h. R$ 60

Fonte: O Estado de São Paulo




DEFICIENTE ALERTA foi criado para orientar,educar,protestar e ajudar todos com deficiência. www.deficientealerta.blogspot.com

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