sábado, 12 de dezembro de 2009

A “Banalização do Sexo” na mídia e a sexualidade das pessoas com deficiência’

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( Fabiano Puhlmann )

Na verdade, existe tão pouco conhecimento e tantas dúvidas a respeito da sexualidade das pessoas com deficiência que, apesar dos preconceitos e tabus relacionados a este tema, ele passa longe de ser corriqueiro.
A sexualidade da pessoa com deficiência não parece ser tratada como corriqueira ou banal, justamente por existir um enorme pudor em se abordar este assunto.
Percebam como, diante de uma pessoa com deficiência, se evita fazer piadas que se fariam normalmente, denotando um aspecto dúbio entre curiosidade e constrangimento, como se “Deficiência” e “Sexualidade” fossem palavrões, ou assuntos de mau gosto, como se todas as pessoas com deficiência fossem despreparadas ou inseguras e deprimidas.
Sexualidade deveria ser um tema leve e gostoso, e não algo denso, sisudo. Mas, justamente por tratar de soltura e prazer, em toda sua complexidade, também não é algo fácil de lidar.
A sexualidade das pessoas com deficiência segue basicamente os mesmos princípios da sexualidade de todo mundo, tendo suas especificidades e curiosidades que podem, sim, ser compreendidas com facilidade, desde que lancemos um olhar corajoso, atento, respeitoso e honesto sobre suas peculiaridades.
Isso exige de cada um de nós, a não banalização. Pelo contrário, exige uma atenção especial, no sentido de individualizar cada caso, compreendendo cada particularidade humana dentro do imenso oceano comum, que é a Sexualidade.
As pessoas com deficiência, além de terem um erotismo com grande enfoque visual, geralmente desenvolvem habilidades físicas que implementam as carícias. Muitas vezes podem fazer uso de acessórios e recursos sexuais para potencializar suas experiências eróticas.
Podemos citar como exemplo, as fantasias eróticas com imagens táteis que os cegos desenvolvem, resgatando a importância do toque no despertar do desejo sexual, assim como os sonhos, os estímulos sonoros e sua ligação visceral com as fantasias.
Já as pessoas surdas, são ligadíssimas nos estímulos internos, além de terem potencializada a fantasia erótica através da visão, tem especificidades na vivência da intimidade, como ter que a negociar as posições sexuais através de LIBRAS.
As pessoas com deficiência intelectual muitas vezes nos surpreendem pela normalidade de seus desejos e sentimentos. Eles querem tocar, conhecer, explorar e sentir prazer, beijar e acariciar... Não somos tão diferentes, somos?.
É surpreendente notar que nunca encontrei matérias que tratassem de forma solta e aberta a questão da sexualidade dentro de revistas de grande circulação. Por exemplo, a sexualidade da mulher com deficiência quase nunca é tratada dentro das principais revistas femininas, o homem com deficiência também não tem outras opções.
As pessoas com deficiência ainda continuam sendo notícia pelas mesmas questões ligadas à acessibilidade, saúde, educação, esportes e trabalho, algumas poucas matérias sobre lazer e turismo, porém, para o bem e para o mal, existe um certo tabu sobre a vida afetiva e sexual de pessoas com deficiência.
Há uma série de dúvidas na cabeça das pessoas, querendo descobrir e adivinhar o que é diferente, se ficou igual ou melhor... e como será? Algumas deficiências podem gerar extrema curiosidade e acionar inúmeras fantasias, tanto para o lado positivo, pensando em superação e diferenciação de tudo o que é banal e comum, como também podem acionar preconceitos por se tratar de um mundo novo e desconhecido. Sinceramente, gostaria de ver um dia, um Big Brother diferente, onde tivesse uma pessoa com deficiência, que jogando de igual para igual com outros participantes, se envolvesse afetiva e sexualmente. Ou uma pessoa com deficiência protagonizando cenas eróticas na “A Fazenda”.
Mas a realidade é bem diferente para pessoas com deficiência...
Nunca soube de uma pessoa com deficiência que participasse destes programas de “Namoro na TV”, assim como também nunca assisti nenhum programa destes de celebridades e fofocas, onde pessoas com deficiência famosas fossem flagradas em praias ou festas picantes. A exposição de pessoas diferentes, fazendo amor diferente, de forma criativa e renovada, não padronizada, realmente deve incomodar muitas mentes...
A curiosidade sobre a sexualidade das pessoas com deficiência continua em alta, todos ficam imaginando como são os problemas e as soluções encontradas por estas pessoas na vivência sexual.
O erotismo está tão banalizado na Internet, TVs e revistas, que se põe a serviço da propaganda para estimular o consumo, em todos os sentidos. Existe uma fabricante de chocolate que em uma de suas propagandas insinua que comer um chocolate é quase uma espécie de masturbação, algo que você faz na intimidade e que traz muitas sensações de satisfação!
As pessoas com deficiência não desejam ver sua sexualidade banalizada, como acontece com todo mundo, mas gostaria que seu tema se misturasse mais nos filmes, nas novelas e nos noticiários, como algo natural. Pois o amor, a paixão e o erotismo são experiências sagradas e profanas ao mesmo tempo, comuns pela freqüência e raras por sua capacidade de transformação.
Não há, realmente, nenhuma graça, nas situações constrangedoras que se exibe em alguns programas de televisão que esbanjam o mau gosto, onde a sexualidade das pessoas é exposta ao ridículo e se profana a intimidade sagrada de indivíduos ou casais. Mostram traições, intrigas e vexames sexuais sem nenhum respeito, e a audiência aumenta com o aumento da exposição sexual... Deveria existir um código que apresentasse um limite claro sobre etiqueta afetivo-sexual.
Mas as pessoas com deficiência, de certa forma, estão protegidas destes constrangimentos.
Os programas voltados para a sexualidade adulta, poderiam apresentar as pessoas com deficiência dentro deste contexto de etiqueta sexual, apresentando seu potencial sexual sem criar falsos mitos, abordando a normalidade de seus sentimentos e vivências, as alternativas eróticas, os tratamentos disponíveis, as experiências de sucesso, os cuidados na maternidade, a comunicação na educação sexual.
Esta seria uma maneira de levar ao conhecimento público, dentro de um conceito respeitoso e ético, muito do que se passa nessa área tão nobre e importante da vida humana, ainda que tenhamos experiências em corpos diferentes, somos também todos muito iguais em termos de expectativas básicas, no que se refere ao encontro com o prazer e com o outro.

Fonte: Revista Reação

DEFICIENTE ALERTA foi criado para orientar,educar,protestar e ajudar todos com deficiência. www.deficientealerta.blogspot.com

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