sábado, 12 de dezembro de 2009

O QUE É ACESSIBILIDADE ?

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( Roberto Rios )

Uma pergunta fácil de responder, se levarmos em consideração somente o fato de uma pessoa com deficiência ou qualquer outra que tenha a mobilidade comprometida, poder adentrar a um recinto, seja ele comercial, público ou privado.
O difícil de responder é quando juntamos na palavra “acessibilidade”, os fatores de “inclusão”.
Quem quer entrar pelos fundos quando todos entram pela frente?
Quem quer ficar nos fundos, quando todos podem ficar na frente ou ao contrário?
Quem quer estar privilegiado em algum canto muito bom, mas preso, quando todos circulam livremente?
Quem acha que é legal ter um espaço só pra si, quando se percebe que este era um pedacinho sobrando, que não tinha nenhuma utilidade, que ninguém queria e que não foi projetado e nem ao menos pensado para ser criado?
Quem considera racional, termos milhares de rampas em calçadas e pouquíssimas com verdadeira utilidade?
A acessibilidade sem inclusão é um remendo mal feito que, muitas vezes, constrange mais e decepciona mais do que serve. Parece com uma manobra malandra e escorregadia para atender exigências da lei ou dar aparência de atenção à diversidade, mas que uma mínima espiadela já revela a falta de vontade, a inexperiência, o sovinismo ou o medo de estragar a aparência do ambiente.
Para ilustrar a precariedade e o mal estar causado pela acessibilidade do tipo remendo, aquela despreocupada com o ser espiritual e social que somos, independente da condição física, vou relatar algumas passagens por ambientes “acessíveis”.
Convidados para uma festa de aniversário de casamento, fomos eu e minha família para um buffet famoso no centro de São Paulo. Escadaria linda e imponente na frente, rampa bonita na lateral... entramos. Salão muito bonito. Depois de algumas horas pedi ao gerente que me indicasse o banheiro adaptado, pois o que estava sendo usado “por todos” não dava para eu entrar.
Ele me respondeu, todo altivo, que tinham um ótimo banheiro, todo adaptado. Começou a me indicar o caminho. Saímos do salão por uma porta lateral, pegamos um corredor comprido que ladeava todo o buffet e seguimos com a missão de chegar. A iluminação do caminho era precária, lotado de móveis que eram retirados conforme avançávamos, empurrava uma mesa aqui, levantava uma caixa ali, empilhava algumas cadeiras acolá e, chegamos no banheiro... realmente adaptado, muito bom.
O gerente feliz me perguntou:
- Gostou?
- Sim gostei, mas me sentiria melhor se estivesse junto com meus amigos lá no outro banheiro, fofocando, contando piadas, dando uma picotada na vida do próximo, dando risadas, essas coisas que se faz nos banheiros... Descontração social, aproximação.

Em um outro buffet foi ainda pior, para chegar ao salão tive que enfrentar o elevador que transportava mantimentos. Uma gaiolinha de tela bem amassada do tamanho exato da minha cadeira de rodas, com mais ou menos um metro e meio de altura. Subi abaixado, debruçado sobre as pernas, aos trancos – parecia que a gaiolinha pulava cordas – e depois, retirado dali como se fosse um pallet de carga, ou um caixote mal arrumado. Pior, ainda tive que ficar com cara de “lâmpada”, agradecendo a “boa vontade” dos cozinheiros, meus “auxiliares” de carga.

Outra feita, fui convidado por um jornalista para analisar a acessibilidade em vários lugares da cidade, entre eles, estava o teatro de uma universidade. O diretor, que nos acompanhava, levou-nos direto ao espaço reservado a cadeirantes. Como diz a personagem da novela: “choquei.”
A forma do anfiteatro era em descida, fechando na direção do palco... e assim, sobravam espaços triangulares sem cadeiras, porque ali ficavam as colunas de sustentação do prédio. Acreditem, destinaram esse espaço para os cadeirantes, ou seja, eu de cara para a coluna. Pode ?!?
Não pode. Mas ali estava. Ocupei o lugar, me ajeitei na cadeira com se fosse começar o show. E a coluna ali... imóvel.
- Quero ver a peça, o espetáculo ou seja lá o que for que se apresente aí, eu disse. O diretor ficou branco...
Lá no laboratório em que faço exames médicos, tem vaga demarcada no estacionamento, que nunca está vaga. Tem elevador para subir ao andar térreo, que nunca funciona. Eu disse subir ao térreo, porque a entrada acessível é por baixo, vamos assim entender: pelos fundos.
Na frente, o laboratório é uma beleza, com linda escada de quatro ou cinco degraus – detesto degraus, não sei porque ? Tenho uma certa incompatibilidade de gênio com qualquer um deles – que poderia estar acompanhada de uma rampa, também linda.
Poderia né !?! Mas.....
E as rampas das calçadas ?
Já vi rampa com poste no meio. Tenho que ser um paraplégico de ectoplasma. Já vi rampa que estava no meio de enormes blocos de concreto misturados com raízes gigantes. Pra que?
Já vi rampa numa calçada de, no máximo, 50 cm de largura. Nesse caso pensei, poderia por as rodas de um lado da cadeira na calçada e do outro lado eu ia de muleta. Seria interessante....
Numa das principais avenidas da capital paulista, avenida esta inclusive reconhecida como totalmente “acessível”, existe uma rampa que dá nas costas de uma banca de jornal... deveriam pelo menos, ter feito um buraco na banca pra gente poder passar e acessar a calçada, não é ?
Vamos entender que, não é botar pra dentro e pronto. Já fizemos nossa parte. Quero entrar pela porta da frente, com dignidade. Participar socialmente do ambiente na sua plenitude. Interagir nas coisas boas e ruins, mas poder estar junto.
Vamos lutar para se incluir na acessibilidade: a consciência, o respeito, o amor, a responsabilidade e a noção do ser social que somos.

Fonte: Revista Reação

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