segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Vamos falar de preconceito?, por Elis Zampieri

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-Mãe olha! Ela nao tem braços!
-Não filho, ela não tem braços, ela nasceu assim.
-Mas como ela come? Será que ela escreve? Como brinca de roda? E para fazer xixi?

Fui bombardeada por essas e outras perguntas enquanto assistíamos a apresentação de encerramento do ano letivo da escola do meu filho. Mas ele só queria saber, não era preconceito. Ela era uma criança diferente de todas as outras, afinal, nenhuma ali balançava, toda feliz, dois toquinhos de braços enquanto dançava. Era natural que ela despertasse olhares de estranhamento. Criança só quer entender. Não pedi que não olhasse, nem que achasse aquilo natural. Expliquei apenas que assim como o tio nascera com os dois dedos do pé grudados ela também tinha nascido sem os braços e que por serem dois membros que usamos muito, ela poderia necessitar de mais ajuda, de algumas adaptações, mas que aprenderia a fazer as coisas de alguma outra forma.

Deixei que olhasse, que matasse a curiosidade natural, que estranhasse. Talvez, se pedisse pra que parasse de olhar, inconscientemente ele entenderia: “nao devo, é feio, proibido…” Assim nascem os tabus. Assim nasceram os meus, que nao pretendo passar adiante.

Preconceito velado, continua sendo preconceito. E o primeiro passo para superá-lo é reconhecê-lo.

Herdamos a cor do cabelo, dos olhos, a altura…mas não herdamos preconceito. Ele não está entranhado no nosso DNA. Preconceito é aprendido. E nós aprendemos. Todos. Mais ou menos. Ninguem está imune à ele. Pode ser clichê mas é a mais pura verdade… Preconceito gera preconceito e em nome dele presenciamos historicamente, verdadeiras atrocidades.
Meu filho, estranhou por um bom tempo aquela situação. Dei à ele esse tempo, mas acho que da próxima vez que se encontrarem, talvez ele a convide para brincar de amarelinha ou segure no seu pedacinho de braço, como se segurasse sua mão.

Fonte: Agência Inclusive

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