DIOGO BERCITO
DA REPORTAGEM LOCAL
Por conta de complicações em seu nascimento -aos prematuros seis meses de gestação-, Elisa Moreira, 13, hoje caminha com dificuldade.
Mas a muleta, que a garota deveria usar para andar, ela deixa em casa. "Prefiro ir segurando nas paredes", explica. Assim, afirma, evita passar vergonha. "Já tiraram sarro."
Esse tipo de vexação faz parte da história de Elisa e também da vida de outros jovens que lidam com deficiências físicas, além de enfrentar as complicações típicas dessa idade.
Nesse momento, estímulos ajudam a superar preconceito e vergonha, segundo Ana Maria Barbosa, coordenadora da Rede Saci -de apoio a deficientes. "O jovem precisa se reconhecer como alguém capaz", diz.
Foi como quando Elisa, que faz fisioterapia desde pequena, começou a nadar. Hoje, tomou fôlego e quer competir. "No caso dela, o esporte deu mais resultado do que a psicologia", explica Telma Previatto, fisioterapeuta da AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente) e responsável pelo tratamento da garota.
Vanessa, 24, bióloga e atriz de teatro, em sua cadeira de rodas
Letícia Moreira/Folha Imagem
Cadeirante e atriz
Esse impulso Vanessa Romanelli, 24, encontrou nos palcos. Atriz dos Menestréis Cadeirantes -trupe formada apenas por quem anda de cadeira de rodas-, a garota já esteve em cinco musicais nos últimos quatro anos. Devido a uma atrofia espinhal, não pode caminhar.
Vanessa faz fisioterapia desde os cinco anos. "Hoje, consigo empinar a cadeira!", comemora. E ri ao contar causos de suas primeiras noitadas.
Uma vez passou por cima do pé de alguém e ouviu: "Onde é que já se viu vir de cadeira de rodas para a balada?". "Queriam que eu fosse como, levitando?", brinca a atriz.
Por mais que seja independente para dançar sozinha ("Vou para o meio da pista, sou cara de pau"), Vanessa nem sempre foi convidada para sair.
"Na época do colégio, minhas amigas iam ao shopping e não me chamavam, talvez porque eu precisasse de alguma ajuda", conta. "Eram amigas para todas as horas, menos para essa."
Geisa Vieira, 18, é outra que gosta de sair de casa. Atleta do time de basquete Magic Wheels (rodas mágicas, em inglês), se junta aos colegas de quadra na hora de passear. Atropelada aos cinco anos, teve de amputar a perna direita.
"Acho que há uma certa admiração por causa do basquete, tipo "poxa, essa menina está superando obstáculos'", diz. "Mas não adiantaria ficar sofrendo."
Lutando por respeito
A sensação descrita pela garota é semelhante à de Mateus dos Santos, 17, que treina judô.
"O pessoal me respeita por conta do esporte", diz. No ano passado, ficou em terceiro lugar no mundial da modalidade para cegos -perdeu a visão aos seis anos, por causa genética.
Entre suas dificuldades de adaptação estão os estudos. Aluno de escola estadual, diz que, por falta de material adequado, ainda está no segundo colegial -quando, por sua idade, deveria estar no terceiro.
No quesito vida amorosa, porém, não fica para trás. "Já namorei, é lógico." As antigas parceiras não eram deficientes.
Hoje, o garoto está solteiro -assim como Luís da Silva, 24. Com paralisia nas pernas e dificuldade para movimentar o braço direito, o garoto vê em sua deficiência uma das razões pelas quais deu seu primeiro beijo apenas no ano passado, mais tarde do que seus amigos.
"Há menos interesse sexual por mim", diz, lamentando que nem todos saibam que suas limitações não impedem a ereção. Além disso, diz que, por ser deficiente, passou muito tempo com medo de levar um fora.
"Mas tem de tentar, como todo o mundo", aconselha.
Ajuda
Thalita Abreu, 21, não só namora como conta com a ajuda de seu namorado para passear. Tetraplégica -não move nada do pescoço para baixo-, vai com ele a lugares desde o zoológico até a rua 25 de Março.
Já o antigo companheiro da garota -por coincidência, paraplégico- hoje está preso. Por ciúmes, foi ele o autor do disparo que, há dois anos, danificou a coluna cervical dela.
"Já o perdoei, não tenho raiva, só causaria mais danos."
Em sua vida atual, a garota ressalta a solidão. "Meus amigos pararam de me visitar, ninguém gosta de ficar o tempo todo no quarto conversando."
Fonte: Folha de São Paulo
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