quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Eles moveram montanhas por um amor com final feliz

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Eles podem não ser parecidos, podem não ser do tipo “nascidos um para o outro” nem formarem, juntos, um casal de causar inveja. Mas isso apenas à primeira vista. Afinal, quem nunca ouviu dizer que os opostos se atraem e que aqueles que são capazes de superar as barreiras é que são, definitivamente, felizes?
Em matéria de amor, eles são mestres em superar os obstáculos das diferenças, mesmo quando falta o apoio de quem está por perto. O que sobra na maioria deles, aliás, é perfeição, semelhança e afinidade. Talvez a superação das diferenças seja, inclusive, o tempero ideal para o amor.
Na literatura, no cinema e na televisão, histórias de amores improváveis são, de longe, os preferidos. Seja na relação entre um escravo e sua senhora, vivida por Peri e Ceci no romance “O Guarani”, de José de Alencar; na história de amor nada convencional entre um rapaz milionário e uma garota de programa, como no filme “Uma Linda Mulher”, de Garry Marshall; nas diferenças de idade entre tantos personagens de telenovelas, ou nas diferenças de cor, de tipo físico, de habilidades e de formas de pensar, na vida real.
Casos de casais como esses geralmente acontecem diante da reprovação dos outros. E o preconceito que acompanha a história de amor de quem não tem “tudo a ver” um com o outro pode pôr tudo a perder. Mas para esses cinco casais que têm, hoje, suas histórias contadas por A GAZETA, o final foi diferente, e foi feliz.
“É como se a gente tivesse que provar aos outros que é possível, sim, dar certo. E isso nos faz ser ainda mais felizes”, resume a professora Marta Maria Emílio, 36 anos, uma das personagens da vida real que tem orgulho de contar a todos a sua história de amor nada convencional.

Aluno da Apae e professora: paixão que supera preconceitos

A história de amor que uniu, no dia 19 de dezembro, a professora Marta Maria Emílio, 36 anos, e o ajudante geral Dione Ramos da Silva, 26, poderia ser como outra qualquer se não tivesse sido escrita em meio a muito preconceito e vontade de superação. Os dois se conheceram há pouco mais de um ano, na Apae de Cariacica. Ela, professora; e ele, aluno especial há 16 anos, diagnosticado com retardo mental.
“A gente se conhecia, mas eu não era professora da turma dele. Um dia, uma amiga me contou que o Dione estava interessado em mim, e eu não dei atenção. Achava que era coisa da cabeça dele, que iria passar. Depois de um tempo, decidi dar uma chance, e acabamos nos apaixonando”, conta Marta.
Foi preciso pouco tempo para que eles tivessem certeza do que queriam. “Fomos morar juntos, mas as pessoas nos olhavam com desdém, faziam fofoca e ligavam para a minha casa me cobrando o que eu não devia a ninguém. E me chocava o fato de até mesmo os professores que trabalham com a inclusão criticarem a nossa relação”, lembra Marta.
Dione, por outro lado, sempre esteve certo do que queria. “Eu dizia para ela: é só ter Deus no coração que tudo vai dar certo”, lembra o rapaz. Foi também em 2008 que Dione saiu da Apae e conseguiu um emprego em uma empresa de alimentos.
E os dois já realizaram o segundo grande sonho: o casamento no religioso. “Nós nos sentimos vitoriosos, porque provamos que o nosso amor é maior”, diz Marta.
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Diferenças que atraem olhares

À primeira vista, a artista plástica Elisa Queiroz, 39 anos, e o videomaker Fran de Oliveira, 34, casados há sete anos, são muito diferentes um do outro. Ela tem apenas 1,60m de altura e pesa cerca de 100kg; ele, do alto dos seus 1,80m, pesa pouco menos de 85kg. Nas ruas, o casal quase nunca passa despercebido.
“Somos o palitinho e a bolinha. E ainda tem o nosso jeito nada convencional de se vestir. Os comentários são os mais diversos. Até sinal da cruz as velhinhas fazem pra gente”, conta Elisa.
Mas se engana quem pensa que eles se incomodam com essas reações. “Temos muitas coisas em comum, inclusive coincidências como o fato de sermos librianos e fazermos aniversário um dia depois do outro”, diz Elisa.
No início do namoro, nem mesmo a família de Elisa apostava no relacionamento. A aparência de Fran assustava a mãe dela, mas ele acabou conquistando a todos. “Os meus colegas, porém, ainda questionavam: ‘Isso vai durar até quando?’”, lembra Fran.

Arte

O preconceito dos outros acabou, inclusive, se transformando em arte, para eles. Em suas obras, Elisa trabalha a ideia de corpo, além de discutir injustiça, religião e outros temas de forma lúdica. “Aprendemos a tirar proveito daquilo que poderia ser motivo de tristeza. Transformamos tudo em arte”, diz Elisa.
Se eles temem os olhares dos outros? “A gente apenas ri. As pessoas acham que somos ‘maus’, que queremos chocar os outros, mas não tem nada disso. Somos o que somos, e aprendemos a nos divertir com isso”, diz Elisa.

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Entre o amor e a família, o amor

“Meu pai era de família italiana muito tradicional e queria que eu me casasse com um homem rico, bonito e perfeito. Quando apareci em casa com meu novo namorado, pela primeira vez, carregado no colo, foi como se o mundo tivesse acabado”. A história de amor da pedagoga aposentada Terezinha Cogo Lodi, 58 anos, e do deputado estadual Cláudio Vereza, 59, parece enredo de novela. E de novela com final feliz.
A aceitação da relação entre a “menina bonita” e o “rapaz aleijado” – como os dois eram vistos pela família e pelos colegas – só veio depois do casamento, em outubro de 1976. “No início do namoro, meu pai negava quando as pessoas perguntavam se estávamos juntos. Quando ele viu que a coisa era séria, ordenou que eu escolhesse: era o Cláudio ou a família, e eu tinha uma semana para pensar. Na mesma hora eu respondi que queria apenas duas horas para arrumar as minhas coisas”, conta Tereza.
Ela chegou a morar em uma congregação de freiras e, depois, dividiu apartamento com uma amiga, na época da faculdade. Mas, em nenhum momento, duvidou da escolha que fez. “Nunca enxerguei deficiência alguma no Cláudio. Os colegas diziam que eu ia passar a vida inteira empurrando uma cadeira de rodas. Era muita bobagem!”, lembra. O pai, com o passar dos anos, se tornou a visita mais frequente na casa deles.
Hoje, 33 anos depois e cinco filhos, eles só tem a comemorar. “Transformamos os problemas em trabalho e dedicação. Se tivesse que voltar no tempo, faria tudo de novo”, completa Tereza.

Análise

Angelita Corrêa Scardua
Psicóloga e especialista em felicidade

Desde muito cedo, aprendemos que certas características e condições materiais conferem mais valor a um indivíduo do que outras. Com isso, tendemos a acreditar que algumas pessoas são melhores, não em função do que elas realmente são mas do que aparentam ser. Mas, quanto mais convivemos com diferentes pessoas, mais chances temos de entender que o valor delas não pode ser medido pelas aparências.
O preconceito está intimamente associado com imaturidade emocional. Na lógica dos que são preconceituosos, a união entre duas pessoas muito distintas é percebida como a de um “perfeito” com um “imperfeito”. A rejeição do vínculo afetivo entre diferentes independe do nível de satisfação demonstrado pelo casal.
Onde há preconceito não há respeito pelos sentimentos alheios, há somente o desejo de fazer prevalecer a própria visão de mundo. Brigar por um amor requer coragem – a palavra “coragem” vem do latim “cordis”, que quer dizer coração. Ter coragem tem a ver com ser capaz de pôr o coração naquilo que faz.
Quando nosso coração está em alguma coisa temos a confiança necessária para lutar por ela. Talvez a coragem explique o sucesso de relacionamentos que venceram o preconceito. Se não desejarmos muito uma pessoa, dificilmente teremos a energia necessária para lutar por ela.
O amor é uma parte essencial do sucesso de uma relação afetiva, mas diálogo, compreensão e vontade são armas igualmente poderosas na arena romântica, não importa quais sejam os protagonistas e quão profundas suas diferenças

Fonte: Gazeta Online

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