quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
Tetraplégicos elogiam Alinne Moraes e alertam para a vida real
Recebi essa matéria do meu querido amigo Leandro Portella e repasso para vocês:
Luciana foi para o exterior tentar uma oportunidade na carreira de modelo. Na volta, o ônibus em que viajava capotou. Depois dos exames, veio a notícia: estava tetraplégica. A personagem da sorocabana Alinne Moraes na novela “Viver a Vida”, exibida pela Rede Globo, tem retratado a realidade de muitas pessoas que passam pela mesma situação, a de perder os movimentos do corpo. Quem sabe muito bem o que é isso elogia o trabalho e espera que a novela consiga ao menos informar a população sobre o tema.
Algumas dicas são valiosas e a expectativa é de que a gravação ajude a esclarecer coisas simples, como por exemplo não ficar em pé enquanto conversa com um cadeirante (o que o obrigaria a ter de ficar olhando para cima, causando desconforto) e ter cuidado ao tentar a empurrar a cadeira, pois ela é como uma extensão do corpo de quem a usa. Espera-se ainda que a novela ajude na conscientização com relação à acessibilidade, que mostre as dificuldades de quem pretende andar por vias que não são rebaixadas ou ainda denuncie indivíduos que estacionam em locais reservados aos deficientes.
Alessandra (nome fictício), conta que assim como Luciana, sofreu um acidente. No caso de Alessandra, o ocorrido foi em um Parque Aquático. Ficou tetraplégica aos 21 anos de idade. Sua lesão permite alguns movimentos da mão e dos braços, mas não chega aos dedos. Atualmente com 24 anos de idade, ela disse que não costuma assistir novelas, mas está acompanhando apenas a evolução da personagem de Alinne Moraes pelo Youtube.
E elogia: “A atuação da Alinne está perfeita. É muito difícil mostrar corretamente alguns pequenos movimentos que ela tem, e imagino que seja mais complicado ainda para uma pessoa que na verdade possui esses movimentos. Não é qualquer um que consegue reproduzir não, ou exageraria ou não faria bem, e ela está passando para o público como realmente é. Mas é claro que tem algumas coisas que nunca vão mostrar na televisão”, afirma.
Conforme Alessandra, é importante que a novela esteja abordando o assunto. “A televisão infiltra o pensamento na cabeça da população. Se eles fazem faculdade de dramaturgia para tocar o coração do povo, quem sabe alguém consiga lembrar, olhar para a gente... Além de ter lei e multas, acredito que para algumas pessoas apenas a conscientização já ajude, então quem sabe a novela acabe mudando alguns, nem que seja uma pequena porcentagem, mas já ajuda, o importante é começar...”. Ela lembra que o apoio da família é imprescindível. “No começo você fica revoltado, mas depois eu percebi que tinha tanta gente lutando por mim que você começa a reagir até mesmo pelo outro.”
Para outras pessoas que passam pela mesma situação, ela deixa o recado: “Quando acontece um acidente com a gente, apesar de ser algo novo e complicado, é fundamental procurar sempre o melhor pra você, onde é o melhor tratamento, por exemplo. Às vezes a pessoa fica numa cadeira de rodas e começa a ter doenças, isso é sinal que ela está fazendo algo que o corpo não está aceitando mais. Então pode ser que aquele tratamento exija mais esforço, mas a longo prazo vai ter mais resultado. Eu penso que não se deve desistir de viver bem, pra que piorar a situação?”.
Na ativa
Morador de Araçoiaba da Serra, Leandro Portella, hoje com 28 anos de idade, ficou tetraplégico ao fraturar o pescoço durante um mergulho no mar de Ubatuba, aos 18 anos. Ele, que sempre esteve envolvido com esportes, sendo inclusive vice-campeão paulista de hipismo rural, teve de se adaptar à nova realidade. Não desistiu da luta. Pelo contrário, tem encarado de forma bastante corajosa toda uma sociedade que ainda vive na ignorância, que desconhece até mesmo como se portar diante de uma pessoa com deficiência.
Tem quem não saiba ao menos como falar com cadeirantes, e que se sente constrangido por isso. Foi pensando nas mais variadas dificuldades - tanto para orientar a população quanto para auxiliar o próprio deficiente - que Leandro criou o blog www.leandroportella2009.blogspot.com. Ele ainda gerencia o site www.guiadeacessibilidade.org.br e é apresentador do programa Acesso Livre, juntamente com Sandro Amaro, que vai ao ar todas as quartas-feiras, a partir das 20h, no site www.twmidia.com/programas/acessolivre. Tem, afirma, muito trabalho pela frente.
Para Leandro é importante que as novelas tratem do tema. “Já teve várias com deficientes, mas nenhuma com uma lesão tão grave quanto à da Luciana. Muita gente não sabia como era a vida de um tetraplégico, então isso já conscientiza as pessoas que existe, pelo menos, mas acho que poderia mostrar mais da realidade. Para ela, está sendo muito fácil pois pertence a uma classe alta, então pode pagar pela cadeira de rodas, fisioterapia e até mesmo uma auxiliar de enfermagem. Ela chegou, a casa já estava adaptada, então fica mais fácil, né?”.
Conforme o apresentador, seria legal se a novela mostrasse as dificuldades do dia-a-dia, como um simples passeio pelas ruas, onde é difícil encontrar calçadas com guias rebaixadas. “Não sei se eles pensam nisso, eles estão mais centrados na recuperação dela. Aliás, como ela é bem de vida, não precisa tomar ônibus, por exemplo, e nem trabalhar, o que também seria interessante mostrar. Sei que é novela, mas eu gostaria que ela não voltasse a andar”, afirma.
Leandro diz que gostou de terem mostrado sobre a parte do relacionamento afetivo. “A Globo tem muita audiência, então mais pessoas podem ficar informadas sobre isso. A mãe do namorado dela quer evitar de qualquer maneira o relacionamento dos dois porque ela acha que o tetraplégico não pode ter filhos. Ela acha que não vai ter futuro, e não quer isso para o filho, que é um arquiteto famoso. A novela mostrou bem o preconceito, a ignorância... O pessoal não bota muita fé na gente...”. Questionado sobre como é assistir à novela, ele afirma que evitou ver a parte do acidente e do hospital, inclusive o momento em que Luciana recebe a notícia sobre seu estado. “Em casa, o pessoal não gosta muito de assistir. Para quem já passou por isso é mais complicado...”.
Sobre a possibilidade de Luciana continuar a carreira de modelo mesmo estando em uma cadeira de rodas, Leandro afirma que isso já acontece na vida real. “É recente ainda, mas a gente mesmo já organizou um desfile de modas em Sorocaba com deficientes. No Youtube também é possível achar modelo em cadeira de rodas. Aliás, já existe também o que se chama de moda acessível, que são roupas apropriadas para deficientes, mais fáceis de vestir, com malha elástica. É bem pouco divulgado ainda, mas já tem gente se preocupando com isso no Brasil. Estão percebendo que o deficiente consome também”, dispara.
Leandro, que trabalha com acessibilidade, afirma que 17% dos sorocabanos tem algum tipo de deficiência, totalizando 60 mil pessoas. “Isso sem contar os deficientes temporários, gente que quebrou a perna, por exemplo, todos precisam de acessibilidade. Imagine se uma loja abrisse para 60 mil consumidores. Por isso é que muitos acabam comprando pela internet. Bem, de pouco em pouco a gente vai conquistando espaço.” le ainda espera que a novela mostre mais sobre a parte de cuidados com o deficiente, como virar de lado para não formar ferida. “Não é bom ficar com a mão sempre fechada, a perna não deve estar sempre esticada e o pé não pode ficar caído, senão deforma. Eles deveriam se preocupar também com essa parte de orientação”, ressalta.
Fonte: Jornal Cruzeiro do Sul
DEFICIENTE ALERTA foi criado para orientar,educar,protestar e ajudar todos com deficiência. www.deficientealerta.blogspot.com
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