Are baba! Estou curtindo umas férias em Búzios durante o mês de janeiro, “levando uma vidinha mais ou menos…”, como disse minha nora Jaqueline ao me visitar. Um dia na piscina, outro na praia, tomando sorvete na Rua das Pedras, lendo um livro na rede da varanda. É mole ou quer mais?
omo sempre quero mais – acessibilidade, fim de preconceito e discriminação, inclusão –, nessa minha estada em Búzios olho para a cidade com bastante rigor em relação à sua adequação às pessoas com deficiência. Afinal, como se não bastasse respeitar a lei, o balneário divide com o Rio de Janeiro a principal ambientação da novela “Viver a vida” da TV Globo, que tem uma das protagonistas tetraplégica.
Numa sexta-feira à noite, eu, Jaqueline e Elisa, minha neta, fomos passear na Rua das Pedras. Com o enchimento de gente normal do verão aumentado por ser véspera de fim de semana, as estradas e ruas estavam congestionadas e os estacionamentos lotados. Depois de procurarmos vaga para estacionar por um bom tempo, lembrei de uma para pessoas com deficiência na rua que dá acesso ao bochincho da night.
Chegamos ao lugar que eu lembrava e minha primeira boa surpresa foi encontrar não uma, mas quatro vagas reservadas, com apenas uma ocupada, por carro de pessoa com deficiência, bem entendido. A segunda boa novidade foi ver que um dos guardadores de carros, quem diria, era um cadeirante, uniformizado e tudo.
Beleza! Estacionamos e fomos para nosso passeio, eu de muletas com ponteiras de borracha novas, compradas antes da viagem como itens de segurança junto com a revisão do carro. Embora os calçamentos das ruas sejam irregulares, não é difícil muletar ou tocar uma cadeira de rodas. É verdade que não encontrei tantos cadeirantes e muletantes como nos shoppings do Rio antes do Natal, pois apesar de a moçada estar saindo, ainda não chegou a Búzios com a mesma força.
Mas o guardador de carros cadeirante e o garoto que tocava a cadeira no meio do povaréu que batia perna já constituíram novidade de bom tamanho para mim, que frequento a cidade desde 1960, quando cheguei do Ceará com nove anos e passei um réveillon aqui, coincidentemente próximo à casa em que estou. Naquela época, a falta de acessibilidade era para todos, começava na estrada terrível que nos trazia e quem morava ou tinha casa de veraneio na região fazia questão de manter a situação daquele jeito para evitar que estragassem o paraíso com os pecados da civilização.
Há um bocado de tempo isso é coisa do passado e hoje o balneário vive um novo capítulo na sua história, só faltando o Manoel Carlos trazer a Luciana da novela “Viver a vida” para um fim de semana na bela casa de veraneio do seu pai. Acredito que ela não vai ter muitos problemas para fazer compras ou jantar na Rua das Pedras.
Deixando a sugestão acima para o novelista e para os cadeirantes da vida real, acho que as belezas naturais e arquitetônicas de Búzios e de todo o Brasil são excelentes molduras para a emancipação das pessoas com deficiência no turismo, estimulando-as e fazendo com que elas comecem a sair também de suas cidades, visitem os lugares que igualmente são seus e passem a viver mais a vida.
*Andrei Bastos é jornalista e integra a Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ.
Fonte: Agência Inclusive
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