terça-feira, 8 de junho de 2010

Curtindo férias em Alagoas

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Cadeirante conta como foi tirar férias no estado nordestino
Adriana Lage

Tirei uns dias de folga do trabalho e resolvi curtir uma semana de férias em Alagoas. Foi minha terceira viagem ao Estado que considero um dos mais lindos que já conheci. Adoro a hospitalidade e solidariedade do alagoano. Como sinto muito frio, pretendo mesmo morar por lá após minha aposentadoria! Maceió tem uma orla maravilhosa, clima quente e é uma cidade mais plana.
Para evitar problemas, solicitei a minha agente de viagens que informasse ao receptivo de lá que eu era cadeirante e precisaria de auxílio – ex: não usar ônibus para me buscar no aeroporto, reservar um assento nas 3 primeiras filas do avião, auxílio na hora de entrar/sair do carro. A Ane sempre informa o aeroporto, o receptivo e o hotel sobre o fato de eu ser cadeirante e tetraplégica.
Não tive problemas para embarcar em Confins. O aeroporto é muito acessível. Dessa vez, viajei pela Webjet. Achei interessante o fato da aeronave não possuir uma espécie de parede separando os passageiros da 1ª fila de parte da tripulação. Com isso, pude entrar mais facilmente no avião. Minha cadeira de rodas foi bem próxima a minha poltrona. Pena que a Webjet ainda não possui cinto de segurança para tetraplégicos. Durante o pouso, precisei de ajuda da minha mãe para não tombar o tronco. Nessa hora, faz muita falta ter pernas funcionando e braços mais fortes. A tripulação da Webjet em solo alagoano era composta apenas de mulheres. Com isso, nenhuma delas me ajudou na transferência da poltrona para a cadeira de rodas. No vôo de volta, esse fato também se repetiu.
Quando desembarquei no Zumbi dos Palmares, passei por uma situação muito desagradável. O receptivo estava com um ônibus para nos buscar e levar até o hotel. Bati o pé e questionei o fato da agência mineira ter passado a informação e solicitado assistência. O guia turístico Curti, da Transamérica Turismo e o Sandro, responsável pela CVC em Maceió, alegaram que tentaram ligar para a CVC em BH, mas não foram atendidos. Achei muito estranho, pois a loja só fecha às 22h e ainda eram 21h25minh. Com isso, os demais passageiros embarcaram no ônibus e ficaram esperando a resolução do meu problema. Tentei negociar com o Sandro e não obtive sucesso. Só não criei mais caso porque estava acompanhada da minha prima, da mãe dela, minha mãe e minha irmã caçula. A mãe da minha prima já estava brava. Logo, logo, a situação se agravaria... Como não queria estragar minhas férias, aceitei pagar o táxi até o hotel (R$ 55,00) com a promessa que seria ressarcida pela CVC no dia seguinte. O Sandro também me disse que mandariam um doblô nos levar aos passeios.
Fiquei hospedada no Hotel Ponta Verde. Fiquei em um quarto adaptado de frente para o mar no 5º andar. A vista é maravilhosa!! A porta do quarto possui 2 olhos mágicos, um na altura padrão, e outro na altura dos olhos de um cadeirante. O banheiro é bem interessante: barras de apoio, espelho, tomadas e interruptores mais baixos, banco plástico para o chuveiro, box com cortina e sem degrau... Não tive dificuldade em usufruir das dependências do hotel.
Como fiquei chateada com a CVC e não senti muita firmeza por parte deles, contratei os serviços da EdvanTur. Tive um atendimento maravilhoso. O Edvan me levou a vários lugares (praia, restaurante, supermercado, banco, shopping, feirinha, etc) e destacou o motorista/guia Elenílson para nos acompanhar nos passeios a Maragogi, Gunga e Dunas de Marapé. Ele me carregou para todos os lados, sempre com a maior boa vontade e com todo cuidado.
Um dos motivos que me fez regressar a Maceió foi a jangada acessível na Pajuçara. Estava louca para andar nela. No domingo cedo, após fechar os passeios com Edvan, fomos andar de jangada e conhecer as famosas piscinas naturais da Pajuçara. Para o meu azar, a jangada acessível tinha acabado de sair levando pessoas sem deficiência. Como não queria perder a viagem, embarquei na jangada do Seu Duda. Um encanto de pessoa. Ele e outro jangadeiro carregaram minha cadeira de rodas e colocaram em cima da jangada. Freiei a cadeira, tirei meu cinto de segurança e coloquei o colete salva vidas. Minha família foi nos bancos atrás de mim. O visual é lindo! O mar estava verdinho... Quando chegamos às piscinas naturais, Seu Duda me ajudou a descer e fiquei dentro d’água curtindo aquele lugar maravilhoso. Minha família adorou. Vimos a jangada acessível de longe. Ela é maior mesmo. Mas o passeio na jangada comum também valeu à pena. Só tive um pouco de medo na hora de descer na praia. As marolas balançavam muito a jangada e fiquei com medo de cair... Graças a Deus, deu tudo certo! O passeio custou R$ 20,00 por pessoa. Das piscinas naturais que conheço, a Pajuçara fica nos últimos lugares. O mais interessante do passeio foi andar mesmo de jangada. A sensação é muito diferente.
Fomos almoçar no Imperador dos Camarões. A comida é deliciosa. O ruim é que muitos pedintes entram no restaurante e ficam tentando vender ou pedir comida. Isso acaba incomodando um pouco.
À noite, fomos ao Pavilhão do Artesanato e à Feirinha da Pajuçara. Nesse ano, gostei mais do Pavilhão. Achei muitos vendedores da feirinha pouco simpáticos. Algumas vendedoras estavam mais preocupadas com o casamento da Luciana na novela do que com as vendas. Dessa vez, gastei muito pouco com artesanato na Pajuçara.
Na segunda-feira, fomos à Maragogi. Para mim, um dos lugares mais lindos que conheço! Ficamos no Restaurante Corais de Maragogi até a hora de embarcar para as piscinas naturais. Ri demais quando minha irmã me contou que o banheiro feminino era adaptado; fui toda curiosa conhecê-lo quando me deparei com uma cerca de madeira na entrada do mesmo. O espaço era muito pequeno para passar com a cadeira de rodas. Ou seja, eles se preocuparam com o vaso sanitário, mas se esqueceram que a cadeirante precisaria passar por uma cerca de madeira e uma porta estreita antes de usá-lo. Resultado: não pude usar o banheiro.
O restaurante é muito bacana e tem uma comida deliciosa. O acesso dentro dele é tranqüilo.
Acabei deixando minha cadeira de rodas no restaurante e fui carregada no colo até o catamarã. Para evitar que eu me machucasse, vários tripulantes me ajudaram nas vezes em que entrei e sai da embarcação. A viagem até as piscinas naturais dura cerca de 25 minutos. Como a maré não estava excelente, passamos em 2 piscinas. Desci na primeira piscina. O lugar é maravilhoso. Achei melhor usar um espaguete do que o colete salva vidas. Como não convivo bem com os peixes (risos – trauma de infância), nem cogitei dar umas braçadas naquele paraíso. O local é cheio de peixinhos coloridos, sobretudo Sargentinhos, ouriços, muitos corais, água transparente e morna... As pessoas aproveitam para fazer mergulho com snorkel e cilindro. Como as marolas foram aumentando e eu estava trombando meus pés com freqüência nos corais, fiquei flutuando um bom tempo. Uma das sensações que mais gosto nessa vida! Um presente de Deus flutuar num paraíso, com sol e céu azul, peixinhos coloridos... Uma das coisas que acho mais engraçadas nesses passeios são os bares flutuantes. Alguns vendedores fazem churrasco dentro da água!
Outro atrativo de Maragogi para mim são os bolos de goma. Biscoitinhos tipo sequilhos vendidos por crianças da região; uma delícia.
Já estive em São Bento, povoado de Maragogi, em 2006. Dessa vez, me senti mal em Maragogi com tanta gente pedindo ajuda. Fiquei com tanto dó que sai de lá trazendo: 12 pacotes de bolo de goma, 2 maiôs, 1 azulejo pintado, um peixinho de folha de palmeira...
À noite, fomos jantar no Carlito. O restaurante possui várias rampas e é bem agradável. O preço também é bacana. Comi uma pizza de carne seca divina!! Pena que caiu uma chuva daquelas durante o jantar. Tivemos que remanejar as mesas para não molharmos muito.
Como éramos 5, acordamos que não faríamos passeios longos todos os dias para poder descansar e curtir a Ponta Verde. A orla está muito bem cuidada e acessível. Existem calçadas rebaixadas, faixas de pedestre sinalizadas, sinais sonoros, os motoristas sempre param para o pedestre atravessar...
Gosto muito da gastronomia alagoana, embora deva confessar que peixe não seja meu forte. Não há como resistir e não se deliciar com as tapiocas de sabores variados vendidas na orla. Gostei muito do Restaurante Parmeggiano (Jatiúca) e do Armazém Guimarães. No primeiro, o ambiente é meio rústico. Temos um cardápio variado: peixes, aves, massas... o restaurante possui rampas. Para variar, no dia em que fui jantar por lá, um carro havia estacionado em frente à rampa de entrada! Tive que dar a volta na esquina para subir até o passeio. O preço é muito bom! Com menos de R$ 15,00 foi possível fazer uma refeição deliciosa em um ambiente aconchegante. O Parmeggiano possui banheiro adaptado. O Armazém Guimarães também é delicioso. O restaurante é todo decorado com fotos antigas de Maceió e objetos antigos. Muito interessante o clima. Achei interessante o fato de um dos funcionários ser anão. Também não tive problemas de acesso por lá. No dia de voltar para casa, resolvemos experimentar o Frans Café. O ambiente é adaptado, mas os funcionários ainda estavam em treinamento, já que o Café havia sido inaugurado na semana anterior. Sem brincadeira, gastei mais de 3 horas para almoçar, tudo isso graças à dificuldade no atendimento!
Dessa vez, aproveitei para conhecer a Praia do Gunga e Dunas de Marapé. Nas viagens anteriores, já havia conhecido a Foz do São Francisco, – local de rara beleza. Viajamos até Piaçabuçu e depois pegamos um barco em direção à Foz do Rio São Francisco. De um lado do rio, temos Sergipe. Do outro, Alagoas. Andamos cerca de 1h de barco e paramos nas dunas na beira do rio para banho de mar. A estrutura é bem rústica. Tive um pouco de dificuldades quando estive por lá. Mas, sem sombra de dúvidas, vale a visita. – Praia do Francês, Sereia, Sonho Verde, Paripueira...
A praia do Gunga está entre as 10 mais belas do Brasil. Ela é composta por um imenso coqueiral e fica em uma fazenda particular. O atual dono abriu a fazenda para que os turistas possam usufruir da praia sem pagar pela entrada. Do alto do mirante, é possível apreciar uma das vistas mais lindas: a praia, a lagoa e o coqueiral. É claro que não pude subir até o mirante, pois são muitas as escadas. Para piorar, a escada é estreita e em forma de caracol.
Achei a infra estrutura do Gunga bem rústica. Por lá, não vi banheiro adaptado. Como as faixas de areia até o mar e até o banheiro são bem grandes, precisei ser carregada algumas vezes. Quase morri de medo quando descobri que o vaso sanitário estava solto!
No Gunga, optamos por conhecer as piscinas naturais de lanchinha. O passeio sai a R$ 20,00 por pessoa e tem duração de cerca de 1h30min. É muito legal. O motorista/guia da lanchinha foi muito bacana comigo e com minha família. Teve o maior cuidado com a gente e nos ajudou em tudo. Ele me carregou nos deslocamentos que precisei fazer. Nossa primeira parada foi numa barreira de corais para tirar fotos e ver os peixinhos coloridos. Ao fundo, temos uma vista privilegiada da Barra de São Miguel. A segunda parada é para banho de mar na piscina natural. Uma delícia!! Na volta à praia, ele nos levou até a curva dos coqueiros. Como a lanchinha começou a balançar, ele retornou. O legal de Alagoas é que os passeios de barco são feitos em braços de mar. Com isso, as embarcações quase não balançam; é bem seguro. Até eu que tenho problemas de equilíbrio não tive dificuldades.
Dunas de Marapé é um complexo de lazer que fica em Jequié da Praia. No mesmo ambiente, temos praia, mangue e rio. Fiquei encantada com a infra estrutura do local. Ele é cheio de rampas. Em um dos lugares, fizeram uma rampinha de garrafas de vidro na areia, o que facilita e muito o acesso de cadeirantes. Ao chegar em Jequiá, é preciso atravessar um pequenino pedaço de rio de barco. Sinceramente, achei um absurdo pagar R$ 20,00 por pessoa para uma travessia de menos de 5 minutos! Dei trabalho para os funcionários conseguirem me tirar do barco. O espaço era pequeno para a cadeira de rodas. Fui carregada no ar, com cadeira e tudo, por 4 homens para sair do barco e pular na ponte sem cair no rio! Momento bem desconfortável...
Em Dunas de Marapé, também não vi banheiro adaptado. Mas deu para sobreviver bem com a ajuda da minha mãe. Na entrada dos banheiros, existe um degrau.
Optamos por fazer o passeio ecológico: conhecemos o Rio de barco, visitamos o mangue, paramos nas dunas e descemos para banho de rio. Os mais corajosos entraram para o mangue com o guia e aprenderam a pegar caranguejo. Voltaram com as unhas cinza e um ‘perfume’ danado. Durante o passeio de barco, preferi não descer. Foi difícil resistir e não cair no rio. Mas fiquei com medo da logística. As pessoas estavam com dificuldade para entrar/sair do rio. Achei melhor não arriscar.
O almoço é uma delícia e está incluso no passeio ao Complexo. Como existem várias iguanas e sagüis em Marapé, na hora do almoço, dizem que elas passeiam pelo restaurante em busca de comida. Como demoramos a voltar do passeio de barco, fomos uns dos últimos a almoçar. Para minha sorte, as iguanas estavam passeando do lado de fora.
O lugar é muito bonito mesmo e tem opções para todos os gostos: praia, rio, dunas, manguezal, restaurante, bar, capela, mirante...
Na véspera da viagem de volta, entrei em contato com o Sandro da CVC para lembrá-lo sobre a necessidade de um carro para me levar ao aeroporto e sobre o ressarcimento do táxi. Ele me garantiu que o motorista me daria o dinheiro.
Na hora prevista para nos buscar no hotel, o motorista, Seu Fidelis, chegou procurando outra família Gomes. Como só eu era cadeirante, logo perceberam que o receptivo havia trocado os nomes. Quando chegamos ao aeroporto, Seu Fidelis me levou até a loja da Transamérica para que eu fosse ressarcida. Fiquei mais de 30 minutos esperando. Com muito custo, o Elton, gerente da CVC no aeroporto, me ressarciu. Não gostei do atendimento que recebi. Em momento algum, eles se mostraram preocupados com minha situação e dispostos a me ajudar. Acabei me sentindo desrespeitada. Só não botei a boca no trombone porque isso acabaria atrapalhando minha semana de férias. Se não estivesse tão cansada e precisando de descanso, teria armado um circo com a CVC.
Quando fui despachar as bagagens, descobri que haviam me colocado na poltrona 4A (janela). Fiquei boba como o pessoal da CVC não respeita a Resolução 009/2007. A resolução é clara ao estabelecer as 3 primeiras fileiras para pessoas com dificuldade de locomoção, sendo que os cadeirantes devem se sentar nas poltronas do corredor. Felizmente, a funcionária da Webjet trocou as poltronas e não tive problemas.
No final das contas, a viagem foi ótima. Alagoas é um dos Estados mais lindos que conheço e recomendo a visita. Os guias me falaram que sempre atendem pessoas com deficiência. Vão aprendendo com cada um dos turistas ‘especiais’ e melhorando o atendimento e a acessibilidade. A geografia ajuda os cadeirantes e nunca falta algum morador solidário disposto a nos ajudar. Voltei com a cadeira de rodas dura de tanta areia, a mala cheia de ótimas recordações e com a certeza de que pretendo morar lá no futuro.

Fonte: Rede Saci

DEFICIENTE ALERTA foi criado para orientar,educar,protestar e ajudar todos com deficiência. www.deficientealerta.blogspot.com

Um comentário:

  1. Olá, eu também estava em Alagoas e Maragogi na segunda.
    Se eu soubesse,iriamos bater o pé com a CVC!

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