sábado, 3 de julho de 2010

O comentario que a Mara publicou ontem no Estadão

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Uma iniciativa nota Dez
Fui convidada pelo O Estado de S. Paulo para conferir a 1ª Mostra Casa e Corporativo Acessíveis 2010 no Shopping D&D. Vale lembrar que a reportagem de O Estado de S. Paulo recebeu press release convidando para visitar a Mostra, agendou horário com a assessoria na sexta (18/06), assim como a avisou de que me convidaria para acompanhar a visita. Qualquer ressalva quanto a Mostra não estar finalizada e o elevador desligado deveria ter sido avisada à reportagem neste momento.
Eu, a repórter Valéria França e o fotógrafo Sergio Neves fizemos a visita na segunda-feira, 21 de junho, a partir das 18h, acompanhados durante todo o percurso e entrevista pela assessora do D&D, Fernanda Périgo. Alguns dos arquitetos puderam também acompanhar momentos da visita, testemunhando minha conversa com a reportagem em seus ambientes. Nenhum deles poderia afirmar, sem faltar com a verdade, que me ouviu reclamando do elevador desligado ou fazendo críticas sem fundamento. Aliás, como bem recordou a Solange Marchezinni, eu teci diversos elogios em seu ambiente, assim como o fiz em todos.
Começamos o percurso pelo ambiente em que sou homenageada por ela e Cintia Podovan. Elogiei o piso, a estante, a mesa articulada para leitura. Fiquei encantada com o bom gosto de tudo e a perfeita tradução que fizeram para uma mulher cadeirante que trabalha 18 horas por dia. Quando fui testar a mesa de trabalho, infelizmente, minhas pernas não entraram embaixo dela. Minha única observação foi: “Solange precisa levantar alguns centímetros, é possível?”. A Solange, muito chateada, disse que sim. Obviamente tudo isso foi acompanhado pela repórter que decidiu, sem me consultar já que não sou editora deste renomado veículo de comunicação, publicar o ocorrido. Sei que já subiram a altura da mesa, que segundo documento enviado pela Cintia, teve sua altura reduzida pelo fabricante em 1,5 cm. Não posso ser responsabilizada pelo erro na execução do projeto mas bem sabemos que este 1,5 cm fazem diferença entre ter acesso ou não.
Ainda no primeiro andar, teci tantos elogios à agência matrimonial (que inclusive foi inspirada em minha amiga e xará Mara Siaulys) com a maravilhosa proposta de uma máquina braile para confeccionar os convites dos noivos e o piso tátil, que o fotografo quis fazer fotos minhas lá. Uma pena não entrarem na matéria já que abasteci a Valéria dos números de pessoas com deficiência visual na cidade e o incremento de público que tal agência teria ao recebê-los como clientes.
Descemos para a casa montada na praça de alimentação, fomos avisados de que o elevador estava desligado e teria de ser carregada. Sem titubear aceitei e fiz as recomendações necessárias para nenhum acidente. Tanto na entrada quanto na saída fiz piadinhas com o Marcos Jordão, que gentilmente me ajudou, para evitar qualquer constrangimento em quem me carregava. De fato, constatamos que tudo estava inacabado, em pleno processo de finalização e aprimoramento. Novamente elogiei o bom gosto do que pudemos ver, antecipando a beleza da mostra. Logo na entrada do banheiro apontei a pia ajustável como um excelente exemplo de desenho universal apontada pela mostra. Isto foi publicado na matéria. Porém, comentei que para mim, que sou tetraplégica e preciso ser carregada de um lado para outro por duas ajudantes, o revestimento rústico em um espaço pequeno seria perigoso porque poderia ralar braços e pernas. Ainda reforcei: mas isso é uma especificidade minha.
Na sala de estar, teci elogios à estante e à disposição do aquecedor porque fica numa altura ótima para uma pessoa em cadeira de rodas. Novamente, não pude acessar a mesa de jantar por causa da altura e comentei que quis comprar uma mesa Sarine para minha casa, mas que não pude porque o fabricante não mexeria na sua altura. Mas tudo isso sem rancor, foi apenas uma constatação de algo que vivenciei. A foto foi feita na bancada lateral e na presença de uma das responsáveis pelo ambiente e da curadora Sandra Perito.
Na sequência, fiquei feliz em contar que aprendi com a ideia do piso em pastilhas da sala de estar e do tapete da sala de TV embutidos no piso. Comentei que pensava que nunca poderia ter um tapete em casa e que agora sabia de uma ótima solução, assim como o comando da TV e som por meio da voz. A tecnologia assistiva oferece para mim, que não mexo os braços, muita autonomia. Outro bom exemplo foi da barra muito bem ambientada que passava desapercebida, sem aquele peso de equipamento médico-hospitalar de segurança. Ao final, depois de parabenizar e conversar com os arquitetos e decoradores presentes, novamente fui carregada brincando com o Jordão sob o olhar da jornalista.
Quando questionada sobre que nota daria a mostra, dei nota 10 pela iniciativa. Afinal, pela primeira vez, um espaço especializado em decoração pensou em divulgar acessibilidade e desenho universal. Uma grande conquista. A reportagem insistiu na avaliação da mostra, sob a perspectiva do desenho universal, já que foi este o conceito vendido para a imprensa e divulgado no press release. Dei nota 7 e pedi que ela mostrasse mais os pontos positivos na matéria, que prevaleceram em minha opinião. Tudo isso diante da Fernanda Périgo. Aliás, o release de divulgação da mostra foi publicado em meu portal (www.maragabrilli.com.br) que é acessado por cerca de 20 mil visitantes por mês interessados em inclusão social e acessibilidade.
Falávamos conceitualmente sobre quais são os 7 preceitos do desenho universal, que a Valéria não conhecia e enquanto comentávamos sobre o conceito de que o desenho universal aproxima as pessoas, fazendo com que todos entrem pelo mesmo lugar, por exemplo, a Acácia Lischewski, da Ciranda Cultural, chegou. Comentamos tal preceito com a observação de que uma rampa seria a melhor solução já que o elevador sempre corre o risco de quebrar.
Neste momento a repórter comentou: “então a nota é 6”. Mas eu não me manifestei porque conversava com a Acácia sobre as dificuldades que ela teve que superar para que a mostra acontecesse.
A entrevista foi encerrada e a repórter saiu com o fotógrafo para terminar de colher registros dos ambientes. Fui embora e depois disso eu e a Valéria não nos falamos mais. Tive acesso à matéria publicada como todos, lendo o jornal do dia, e virei a algoz da acessibilidade na concepção de muitos de vocês!
Quem me conhece sabe o quanto trabalho para que a acessibilidade seja um conceito amplamente divulgado e conhecido. Não é um modismo. Jamais diminuiria um trabalho realizado com tanto esforço e dedicação e que beneficiaria diretamente não só a mim, mas também aos cerca de 28 milhões de brasileiros que têm uma deficiência (14,5% da população de cerca de 190 milhões, segundo dados do IBGE em 2009). Se pensarmos em suas famílias, podemos multiplicar esse número por 3 pelo menos. Daí serão 80 milhões de brasileiros envolvidos com o tema e ávidos para encontrar soluções, serviços e recursos. Não é pouca coisa.
Por isso, parabenizo todos os profissionais envolvidos no evento – dos idealizadores aos operários que montaram os ambiente, e especialmente aos arquitetos e decoradores - que se dedicaram em montar espaços não apenas acessíveis, mas esteticamente atrativos, de bom gosto e inovadores. Que interesse teria em destruir a mostra? Aparecer? Eu apareceria na reportagem de qualquer forma só que seria bem menos desgastante se ela tivesse sido elogiosa.
Reforço que não sou a autora da matéria publicada. Ela foi escrita por uma jornalista respeitada do caderno Metrópole, contratada pelo O Estado e que tem seus editores. Cheguei a comemorar que um tema tão específico como designer e decoração com acessibilidade fosse pautado por uma editoria que traz temas do cotidiano, sinal de que isso estava se tornando algo inerente ao dia-a-dia e à qualidade de vida na metrópole. E o papel desta editoria – Metrópole – é justamente tratar dos problemas da cidade com olhar crítico e avaliador.
Levando em consideração que esta foi a primeira edição mostra, não me surpreende que algumas dificuldades tenham sido evidenciadas. Porém, espero que empresários, arquitetos, decoradores e patrocinadores sintam-se desafiados e aperfeiçoem, cada vez mais, seus trabalhos.
O que vocês querem que eu faça para ampliar a divulgação do desenho universal?
Mara Gabrilli

Fonte O Estado Online




..DEFICIENTE ALERTA foi criado para orientar,educar,protestar e ajudar todos com deficiência. www.deficientealerta.blogspot.com

3 comentários:

  1. Desculpe-me mas sou meio devagar, quer dizer que um cadeirante, não importa se é conhecido ou não, tem que gostar de tudo que lhe enfiam pela garganta? Na verdade quem promoveu o evento deveria ter avisado que; NÃO ESTAVAM PREPARADOS PARA RECEBER UM CADEIRANTE naquele momento, faze-lo por cortesia, educação, respeito para com o próximo. Até quando teremos que engolir um serviço “acessível”, meia boca?

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  2. me desculpe fugir do tema, mas gostaria do email dos responsáveis pelo blog.
    att Tiago

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  3. nosso email é deficientealerta@gmail.com
    abraços

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