terça-feira, 13 de julho de 2010

O comércio abre as portas para pessoas com deficiência

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Cresce a contratação desses profissionais no Rio de Janeiro

Adilma Alves Nunes, de 31 anos, estava desempregada havia dez, desde que um acidente de motocicleta causou um encurtamento de cerca de quatro centímetros em sua perna direita. Longe do mercado de trabalho por tanto tempo, Adilma sustentou-se fazendo artesanatos, como biscuit e bordados. “Eu não sabia que as empresas queriam contratar deficientes físicos”, explica. “Até que uma amiga avisou que uma consultoria de Recursos Humanos aceitava currículos de profissionais com deficiência.” Decidiu arriscar.
Foi chamada para uma entrevista em uma empresa de material de construção. “Até me assustei, pensei em trabalho pesado.” Nada disso. Depois de ser aprovada em três fases, Adilma foi contratada pela Leroy Merlin para ser vendedora no setor de decorações. “Isso mudou a minha vida. Com o primeiro salário, comprei uma bicicleta para a minha filha. Passei a me sentir melhor comigo mesma e até me acho mais bonita.”
Adilma diz que outras pessoas com deficiência foram contratadas recentemente. “Nós trabalhamos tanto quanto as pessoas que não têm deficiência. Acho que até mais. Nesses quatro meses nunca me atrasei, nunca faltei. Quero ficar muito tempo na empresa, não é nem pelo dinheiro, mas pela minha autoestima.”
Como Adilma, pelo menos 9 milhões de trabalhadores têm algum tipo de deficiência física em todo o Brasil. Desses, 5,6 milhões são homens e mais da metade do total ganha até dois salários mínimos. E 31,5% estão empregados no setor de serviços ou no comércio. Os dados são do Censo 2000 e já não refletem a realidade brasileira.
Desde a última contagem da população, o número de pessoas com deficiência com emprego só tem aumentado. Em parte, porque o governo federal tem intensificado a fiscalização para garantir o cumprimento da chamada Lei das Cotas, de 1991. Mas também porque o empresariado está mais consciente.
A Leroy Merlin, por exemplo, tem pessoas com deficiência em seus quadros desde que se instalou no Brasil, em 1998. Mas, a partir de 2005, intensificou as contratações, criando o Programa de Inclusão de Profissionais com Deficiência, após fazer um mapeamento de todos os cargos para identificar as deficiências compatíveis com cada função.
A empresa também envolveu os demais funcionários nessas mudanças, organizando palestras de sensibilização das lideranças e elegendo profissionais de RH que atuam como “padrinhos” dos novos funcionários. “Além do simples cumprimento da Lei de Cotas, nosso objetivo é contribuir para a inclusão social. Reconhecemos o potencial dos profissionais com deficiência e valorizamos a diversidade”, afirma a diretora de Recursos Humanos, Julieta Nogueira.
“Não tenho a menor dúvida de que as empresas estão mais empenhadas em contratar pessoas com deficiência”, acredita a analista de Recursos Humanos Kelli Tavares, sócia do portal Deficiente Online. “Não apenas para preencher uma cota, mas porque reconhecem os bons resultados desse tipo de profissional. Eles trabalham com afinco. Além disso, é bom para a imagem do negócio, as pessoas passam a ter mais respeito pela marca.”
Quando o serviço de cadastro de candidatos do Deficiente Online iniciou, em fevereiro do ano passado, o portal apresentava três empresas que ofereciam vagas e o currículo de apenas dez profissionais em seu banco de dados. Um ano depois, 200 empresas de todo o país contratam funcionários por meio da consultoria e 4.383 pessoas com deficiência estão inscritos.
Kelli e o marido, o analista de sistemas Cláudio Tavares, lançaram o portal depois de enfrentarem eles próprios o preconceito que atinge pessoas com deficiência – Cláudio nasceu sem a mão direita. “Depois de bater cabeça em busca de emprego, de buscar informações sobre legislação e não encontrar nada, ou só achar dados incompletos, decidimos lançar o portal focado nesse profissional”, conta a analista. Foram oito meses de estudo sobre o mercado de trabalho para o deficiente. Hoje eles têm o certificado que garante que o site pode ser acessado por deficientes visuais.
“Por incrível que pareça, as empresas até se adaptam para receber esses novos funcionários. O grande problema são as dificuldades de mobilidade urbana. A pessoa com deficiência muitas vezes não consegue chegar até o local de trabalho porque o ônibus não é adaptado, as calçadas são impróprias. A pessoa com deficiência não quer viver de favor: quer sair do núcleo familiar, quer consumir”, afirma Kelli.
A legislação federal estabelece que, em empresas com até 500 funcionários, 3% deles sejam pessoas com deficiência. Para aquelas com até mil empregados, a cota estipulada é de 4%, chegando a 5% para as que têm mais de mil. As que descumprem as regras estão sujeitas a multas que variam de R$ 1.254,89 a R$ 125.487,95.
Após a publicação da lei, as empresas não tinham ideia de como viabilizar o acesso desses profissionais ao mercado de trabalho. “Lançavam vagas praticamente impossíveis de serem preenchidas. Muitas exigiam pós-graduação e, no mínimo, 36 meses de experiência em determinada função”, conta Kelli.
Como não conseguiam preencher as vagas, recorriam aos órgãos fiscalizadores e recebiam uma certidão negativa -– um documento que informava que a empresa havia tentado contratar o profissional com deficiência, mas sem sucesso. “Isso dava à empresa mais 60 dias para adequar-se à lei.” A situação mudou, diz a analista de RH. “O quadro se inverteu: hoje muitas firmas procuram esses profissionais e quase não exigem experiência.”
O Ministério do Trabalho e Emprego tem intensificado a fiscalização em torno das firmas com mais de cem funcionários que, por lei, têm de reservar percentual de vagas para pessoas com algum tipo de deficiência. Segundo dados do próprio ministério, entre janeiro e setembro do ano passado, 23.079 pessoas com deficiência ingressaram no mercado de trabalho. Dessas, 17.415 obtiveram a vaga a partir da fiscalização da Secretaria de Inspeção do Trabalho; o restante, por conta de ações de intermediação de mão-de-obra do Sistema Nacional do Emprego (Sine). Nos primeiros nove meses de 2007, 15.431 pessoas com deficiência passaram a trabalhar com carteira assinada.
O gerente comercial da Desafios e Soluções em Recursos Humanos (DSRH), Marco Antonio Bouhid, reconhece que a falta de qualificação ainda é uma dificuldade na hora da contratação. Mas isso tem mudado. E o comércio tem contratado, principalmente para vagas em escritórios e serviços administrativos. “Algumas empresas ainda contratam pessoas com deficiência apenas para o cumprimento de cotas. Mas estamos tentando mudar isso. Para se ter um exemplo, seis anos atrás, quando começamos, não tínhamos nenhuma vaga para pessoas com deficiência. Hoje, elas correspondem a 25% das nossas ofertas de emprego”, detalha Bouhid. Entre essas vagas, estava a que Adilma conquistou, na Leroy Merlin.
A assistente administrativa Angélica Galazi Maciel, de 31 anos, é um exemplo de que qualificação faz diferença para se ter boa colocação no mercado de trabalho. Com ensino médio completo e a faculdade de letras por terminar, inglês fluente e experiência, passou por empresas de telecomunicação e hoje trabalha numa companhia especializada em petróleo e prospecção de gás. “Nunca foi difícil conseguir emprego e devo isso à minha escolaridade”, afirma Angélica, que, em 2006, sofreu um acidente em uma piscina e ficou com tetraparesia (perda de parte dos movimentos de pernas e braços). Angélica acabou criando um grupo de discussão na internet para facilitar a divulgação de vagas para deficientes ( http://br.groups/yahoo.com/group/deficienteeficiente/).
Algumas empresas ainda enfrentam dificuldades para preencher todas as vagas. A rede Casas Bahia, por exemplo, precisa contratar três mil pessoas com deficiência em todo o país para se manter na lei. Mas esbarrou na baixa qualificação dos candidatos – tem em seus quadros apenas mil. Para resolver a questão, criou, em dezembro, o Centro de Capacitação e Reabilitação Profissional, o Cecrep, que promoverá a capacitação e a qualificação profissional dos candidatos.
Os treinamentos oferecidos são para auxiliar de escritório, de estoque, caixa e vendedor. Com três meses de duração, as aulas são divididas em módulos que abrangem aspectos teóricos e práticos para as funções a serem desempenhadas. Foram abertas duas turmas iniciais, com 20 pessoas cada. O centro oferece ainda programa de reabilitação, que inclui ortopedia, psiquiatria, psicologia, assistência social, fisioterapia, terapia ocupacional e acupuntura para os funcionários que estão retornando ao trabalho após licença médica. O projeto piloto fica no Centro de São Paulo e, este ano, deve ser estendido a outros estados.
A C&A, que desde 1997 tem em seus quadros pessoas com deficiência, lançou recentemente o Portas Abertas, projeto que visa à seleção e contratação. Para participar do processo seletivo, o candidato deve ter ensino médio completo e se cadastrar no site www.cea.com.br. “A empresa desenvolve uma política que pretende compatibilizar o perfil do associado à função que ele exercerá. Dessa forma, permite que praticamente todas as áreas da empresa possam contar com a contribuição de pessoas com deficiência”, informa, em nota, a C&A.
O Grupo Pão de Açúcar, que reúne os supermercados Pão de Açúcar, Sendas, Extra, ABC, Comprebem e Assai, tem longo histórico de contratação de pessoas com deficiência. “Historicamente, o grupo sempre contratou pessoas com deficiência, mas passou a intensificar essa ação a partir da exigência legal, que fez com que as empresas se mobilizassem mais para a inclusão. Assim como fez com que as pessoas com deficiência saíssem de suas casas para o mercado de trabalho”, diz a gestora de RH-Diversidade do grupo, Vandreia Oliveira.
A rede não conta com programas de treinamento específico – todo novo funcionário passa por cursos de formação, de acordo com a necessidade de cada unidade. Assim, essas pessoas frequentam os mesmos cursos que os demais admitidos. E os resultados são excelentes. “Os profissionais contratados apresentam desempenho adequado à função que exercem. Isso é fruto de um processo de seleção cuidadoso em que são avaliados o perfil do profissional, sua deficiência e o posto de trabalho mais adequado a esse conjunto. Não há registro de desempenho inferior em função de uma determinada deficiência”, afirma Vandreia.
A gestora lembra que um dos objetivos do Grupo Pão de Açúcar é ser respeitado “por sua rentabilidade, inovação, eficiência, responsabilidade social e contribuição para o desenvolvimento do país”. “Essa diretriz norteia os atuais programas da Diversidade, seja o GPA para Todos, de inclusão de profissionais com deficiência, o Jovem Aprendiz, para aqueles que têm entre 14 e 24 anos, e o Terceira Idade, que dá nova oportunidade para aqueles com mais de 55 anos”, relata Vandreia.

Fonte: http://www.fecomercio-rj.org.br/

DEFICIENTE ALERTA foi criado para orientar,educar,protestar e ajudar todos com deficiência. www.deficientealerta.blogspot.com

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