terça-feira, 21 de dezembro de 2010
Cego dirige filme que pretende ser marco na história do cinema
Pela primeira vez na história do cinema brasileiro, um curta-metragem é dirigido por um cego, num exemplo de como o preconceito pode e deve ser superado.
João Júlio Antunes, 44 anos, perdeu a visão com 30 anos, devido a uma rara doença genética, chamada retinose pigmentar, que causa a destruição das células da retina. Mas nem a cegueira, nem a morte prematura dos pais ou a deficiência renal, que o colocou na fila de espera por um transplante, o impediram de realizar o sonho de tornar-se um cineasta.
Vencendo todos os preconceitos, conseguiu o apoio da Secretaria de Cultura do Distrito Federal e de empresas como a Petrobras para rodar o filme "Uma vela para Deus e outra para Beto".
"Eu cheguei a ouvir as pessoas dizerem: 'Coitado! Um cara cego e quer dirigir… Alguém tem que dizer para ele que isso não pode, que cinema é uma arte visual'. E eu estou aqui mostrando que não é assim", afirmou Antunes.
O diretor considera a sua vida uma história de superação e aconselha a todos que lutem pelos seus sonhos. "Tudo o que você quer, que você sonha, que você deseja, que você vai atrás, você consegue", garantiu.
A memória visual forte que ainda tem dos tempos passados, a audição aguçada e a bengala são fundamentais para executar o seu trabalho de direção. A equipe de filmagem e o elenco consideram um privilégio trabalhar com Antunes, que contagia todos com sua alegria, bom humor e cordialidade. "Nem parece que ele tem uma deficiência. Ele vive com uma alegria muito grande e, para mim, é um exemplo de vida, de pessoa. Eu estou muito feliz de estar participando deste projeto", declarou o ator César Peres Neto.
"A falta de visão dele não transparece como uma limitação. O lado mais incrível de tudo isso não é a história do Beto, que é o personagem, mas a história do João, que é uma figura sensacional", disse João Campos, que interpreta o protagonista do filme.
"Uma vela para Deus e outra para Beto" conta como um jovem herdeiro de um banco, que tem como conselheiros um monge budista e um padre, resolve mudar radicalmente de vida.
Por trás das câmaras, a outra história que revela a força e a determinação de um homem cego, negro e pobre que venceu os preconceitos. "Eu quero crer que este filme seja um divisor de águas", disse Antunes, lembrando que o curta utiliza a Língua Brasileira de Sinais (Libras), legendas para surdos e áudio-descrição, recurso que permite a inclusão de pessoas com deficiência visual.
"É um filme que qualquer um pode assistir, um filme para todos", destacou o diretor. As gravações do curta-metragem começaram em julho e o filme participou do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro com grande sucesso.
Fonte: http://www.portaldaoftalmologia.com.br
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