sábado, 12 de dezembro de 2009

Deficientes físicos contam como é passar pelo drama de Luciana de Viver a Vida

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Nos últimos dias, o Brasil inteiro tem acompanhado o drama de Luciana, a modelo interpretada por Alinne Moraes na novela Viver a Vida, da Rede Globo. Bonita, alegre, divertida e entusiasmada, Luciana sofreu um acidente automobilístico na Jordânia, onde estava a trabalho, e teve a coluna gravemente machucada. Irreversíveis, as lesões a deixaram tetraplégica, de acordo com o primeiro diagnóstico. Nos próximos capítulos, o público acompanhará dia a dia a adaptação da moça à nova - e extremamente difícil - realidade.
A atriz revela que interpretar uma personagem tão peculiar é um aprendizado e tanto. "Durante quatro meses trabalhei o corpo e conversei com muita gente sobre o assunto. Eu era completamente leiga sobre o assunto. Tive contato com pessoas que convivem com essa dificuldade há muitos anos. Mas, o mais incrível, foi descobrir que cada uma delas é diferente, que lida com o problema de uma maneira individual. Isso me dá muita liberdade para trabalhar a Luciana do meu jeito. Estou aberta e acho ótimo me surpreender conforme chegam as cenas. A emoção está viva", descreve Alinne, ciente da importância que a personagem tem - e terá - para muitas pessoas na mesma condição.
De acordo com a psicóloga Maria Claudia Cristianini, da Associação para Valorização de Pessoas com Deficiência (Avape), as pessoas que de uma hora para a outra se veem com uma deficiência física costumam atravessar quatro fases. A primeira é a de choque total diante da nova condição. "Na segunda, denominada negação, o paciente acredita que poderá voltar a andar e, ao entrar em contato com a realidade, assume um comportamento de defesa", explica Maria Claudia. O terceiro estágio é o de reconhecimento - a pessoa decide iniciar um tratamento (fisioterapia, psicoterapia etc.), em geral em um centro de reabilitação. "O contato com outros pacientes e a persistência do quadro a fazem tomar consciência da real situação. É comum, nesse período, acontecerem episódios de ansiedade e depressão, que muitas vezes são identificados por queixas físicas, como excesso de dores. E, por fim, a última etapa é a da aceitação. "O paciente começa a se reintegrar socialmente e apresentar autoeficiência dentro de suas limitações", destaca a psicóloga.

Aceitação

É provável que Luciana atravesse todos esses percalços na trama de Manoel Carlos. Muita gente deve se identificar com sua história. É o caso da ex-modelo Samanta Almeida, 31 anos, paraplégica desde os 14 anos, quando sofreu um acidente com uma arma de fogo - o disparo atingiu alguns de seus órgãos e queimou a medula. "A adaptação foi complicada. Toda a minha casa teve de ser reformulada. O mais difícil, porém, foi o fato de sentir muita dor. Aliás, sinto dor até hoje, tomo medicamentos fortíssimos. Também sofri bastante com as escaras. Tive uma muito séria, precisei até retirar um pedaço do osso para curar a infecção", conta. Escaras são caracterizadas pela destruição localizada da pele que acomete os doentes acamados e ocorrem nas regiões de apoio, como costas e nádegas.
Assim como Luciana, o repórter voluntário da TV Sentidos, Ronaldo Denardo, 34 anos, de Santo André (SP), também se tornou tetraplégico após um acidente automobilístico, em 1997. Ele sofreu muito para aceitar o que aconteceu - pensou, inclusive, em acabar com a própria vida. "Só consegui encarar a realidade e investir na minha felicidade dois anos e meio após o trauma, depois da aceitação e da descoberta que a vida continua e que é bela. Independentemente da condição física, tudo é possível, mesmo com alguns limites", revela. Ronaldo admite que até hoje não é fácil depender de terceiros para realizar determinadas atividades - algumas relacionadas com a própria higiene -, mas se sente realizado e ainda tem esperanças de voltar a andar. "Nem por isso deixo de viver e paralelamente sigo em busca dos meus sonhos", conta. E o que ele diria para a Luciana, como forma de aliviar a sua dor? "A realidade é dura, mas o melhor caminho é a aceitação, tente se redescobrir e verá que pode ser muito feliz."
Eva Portugal de Sousa, 26 anos, servidora efetiva do Poder Judiciário de Palmas (TO), concorda. "A vida deve continuar. Se eu não tivesse continuado a minha, teria mergulhado de cabeça numa vida solitária, triste e depressiva. Se o mundo não te dá oportunidades, você tem de criá-las. Vítima de artrite reumatóide na infância, ela se tornou cadeirante aos 9 anos. "A primeira dificuldade foi, com certeza, encarar a cadeira de rodas. Eu era uma criança, queria ter a vida de criança, então sentar em uma cadeira de rodas e ser carregada era algo assustador. Mas isso era só o começo; ruim mesmo era encarar os olhares das pessoas, as perguntas, os comentários e, principalmente, os preconceitos", confessa. "Percebi que tinha de encarar a realidade quando a minha mãe me levava para a escola e dizia que a vida precisava continuar. Às vezes, eu ia chorando, me sentia muito insegura. Na hora do intervalo, contava com a companhia da minha irmã. Esse sofrimento foi questão de meses, até fazer amizade com a turma. Sabia que jamais seria como meus amigos, mas as diferenças não nos afastaram."
Hoje, Eva não sonha com a cura, mas em viver em um país com melhores condições para os cadeirantes. "A falta de acessibilidade presente praticamente em todo o Brasil é um dos grandes problemas que enfrentamos, porém nada disso pode barrar os nossos sonhos, afinal não podemos aceitar viver à margem de uma sociedade que cultua a perfeição física", sentencia.
Para a psicóloga Maria Claudia Cristianini, da Avape, toda vez que passamos por dificuldades em nossas vidas devemos perceber que existe uma mensagem psíquica na qual precisamos decifrar e entender. "Sempre após enfrentarmos obstáculos, doenças ou quaisquer dificuldades, conseguimos aprender uma lição de vida, nos tornamos seres humanos melhores e capazes de reconhecer situações que antes não percebíamos", destaca. Ela diz ainda que a pessoa com lesão medular, ou qualquer deficiência, não deve se sentir rebaixado aos olhares de outras pessoas. "O que orientamos a qualquer pessoa é continuar vivendo seu dia a dia e assim, automaticamente, mostrar aos demais que não precisa ser vista com dó ou piedade. Isso porque é um ser humano como outro qualquer, capaz de realizar diversas atividades." A psicóloga recomenda a realização de atividades que proporcionam prazer - e, consequentemente, maior qualidade de vida e a sensação de integração à sociedade.

A vida continua

Samanta, por exemplo, conta que depois do período de adaptação teve uma adolescência bem alegre, com direito a festas, acampamentos e namoradinhos. Hoje ela mora em Londres, trabalha como modelo cadeirante e é casada com Mark Bullock, da Federação Internacional de Tênis (ITF), responsável por organizar torneios em cadeiras de rodas em todo mundo. Ela, aliás, também é tenista. "Sou muito feliz. Estou aprendendo a falar outros idiomas, jogando e trabalhando com a divulgação do tênis cadeira de rodas pelo mundo. Viajo bastante e conheço muita gente", conta.
A estudante Fernanda Sene, 16 anos, de Uberaba (MG), teve um câncer no fêmur da perna direita, que depois atingiu a artéria, em 2005. Sofreu muito, assim como sua família, e precisou amputar a perna. Foram quatro meses terríveis de quimioterapia e de muita dor. "Sentia a dor chamada efeito fantasma, que é a sensação da perna amputada. Ela pulava, formigava, fiquei meses sem dormir direito. No começo não saía de casa, não queria receber visitas, não queria que me vissem amputada, com mal-estar..." Após o período difícil, Fernanda resolveu aceitar a nova condição. Hoje, na maior parte das vezes, conta com uma prótese e não deixa de se distrair, ir às baladas, reunir as amigas em casa. "Gosto muito de ficar com minha família, que me apoiou, dando risada e vendo filmes", diz.

Sexo

Em Viver a Vida, o noivado de Luciana com Jorge (Mateus Solano) vai acabar e ela deve iniciar um romance com Miguel (Mateus Solano), fatos que vão dar margem para a novela discutir a sexualidade dos deficientes físicos. Para Denise Teixeira, psicóloga da Avape especialista em sexualidade para pessoas com deficiência, as dúvidas dos indivíduos que, por uma lesão medular, ficam paraplégicos ou tetraplégicos são comuns em relação às questões sexuais e devem ser tratadas com seriedade e acompanhamento especializado. "Para os homens, a disfunção erétil e o medo do fracasso é a principal dúvida e, no caso das mulheres, a fecundidade sempre está no centro das discussões", conta. "Apesar da lesão, muitos homens continuam com as funções de ereção e ejaculação intactas", explica a psicóloga da Avape. Nesse caso específico, o principal é realizar um trabalho de orientação em conjunto com a parceira para que haja a aceitação com a ajuda da outra pessoa. Para as mulheres, o assunto é mais tranqüilo, porque dependendo do grau da lesão não há nenhum tipo de interferência caso ela queira ser mãe. "Porém, também há necessidade de um trabalho de orientação para a vida sexual não causar constrangimentos à mulher", afirma a especialista.

Fonte: Uol

DEFICIENTE ALERTA foi criado para orientar,educar,protestar e ajudar todos com deficiência. www.deficientealerta.blogspot.com

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